Mensagem do Papa Bento XVI

?Hão de olhar para Aquele que trespassaram? é o tema bíblico de reflexão quaresmal da Igreja Católica

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Por Agencia Estado
Atualização:

Todos os anos, o tema de reflexão da quaresma é alterado pelo papa, e para o período que se inicia hoje, o papa Bento XVI anunciou como guia o tema bíblico ?Hão de olhar para Aquele que trespassaram? (Jo 19, 37). Veja, a seguir, trechos do pronunciamento oficial do Vaticano. ?A Quaresma é tempo propício para aprender a deter-se com Maria e João, o discípulo predileto, ao lado d´Aquele que, na Cruz, cumpre pela humanidade inteira o sacrifício da sua vida (cf. Jo 19, 25). Portanto, dirijamos o nosso olhar com participação mais viva, neste tempo de penitência e de oração, para Cristo crucificado que, morrendo no Calvário, nos revelou plenamente o amor de Deus. Detive-me sobre o tema do amor na Encíclica Deus caritas est, pondo em realce as suas duas formas fundamentais: o ágape e o eros. A palavra ágape, muitas vezes presente no Novo Testamento, indica o amor oblativo de quem procura exclusivamente o bem do próximo; a palavra eros denota, ao contrário, o amor de quem deseja possuir o que lhe falta e anseia pela união com o amado. O amor com o qual Deus nos circunda é sem dúvida ágape. Mas o amor de Deus é também eros. No Antigo Testamento o Criador do universo mostra para com o povo que escolheu uma predileção que transcende qualquer motivação humana. É no ministério da Cruz que se revela plenamente o poder incontível da misericórdia do Pai celeste. Para reconquistar o amor da sua criatura, Ele aceitou pagar um preço elevadíssimo: o sangue do seu Filho Unigênito. A morte, que para o primeiro Adão era sinal extremo de solidão e de incapacidade, transformou-se assim no ato supremo de amor e de liberdade do novo Adão. Pode-se então afirmar, com São Máximo, o Confessor, que Cristo ?morreu, se assim se pode dizer, divinamente, porque morreu livremente? (Ambigua, 91, 1956). Na Cruz manifesta-se o eros de Deus por nós. Eros é de fato - como se expressa o Pseudo Dionísio - aquela ?força que não permite que o amante permaneça em si mesmo, mas o estimula a unir-se ao amado? (De divinis nominbus, IV, 13: PG 3, 712). Qual ?eros mais insesato? (N. Cabasilas, Vita in Cristo, 648) do que aquele que levou o Filho de Deus a unir-se a nós até ao ponto de sofrer como próprias as conseqüências dos nossos delitos? Queridos irmãos e irmãs, olhemos para Cristo trespassado na Cruz! É Ele a revelação mais perturbadora do amor de Deus, um amor em que eros e ágape, longe de se contraporem, se iluminam reciprocamente. Na Cruz é o próprio Deus que mendiga o amor da sua criatura: Ele tem sede do amor de cada um de nós. ?Hão de olhar para Aquele que trespassaram?. Olhemos co confiança para o lado trespassado de Jesus, do qual brotam ?sangue e água? (Jo 19, 34)! Vivamos então a Quaresma como um tempo ?eucarístico?, no qual, acolhendo o amor de Jesus, aprendemos a difundi-lo à nossa volta com todos os gestos e palavras. Contemplar ?Aquele que trespassaram? estimular-nos-á desta forma a abrir o coração aos outros reconhecendo as feridas provocadas à dignidade do ser humano; impulsionar-nos-á, sobretudo, a combater qualquer forma de desprezo da vida e de exploração da pessoa e a aliviar os dramas da solidão e do abandono de tantas pessoas. A Quaresma seja para cada cristão uma experiência renovada do amor de Deus que nos foi dado em Cristo, amor que todos os dias devemos, por nossa vez, ?dar novamente? ao próximo, sobretudo a quem mais sofre e é necessitado. Só assim poderemos participar da alegria da Páscoa. Maria, a Mãe do Belo Amor, nos guie neste itinerário quaresmal, caminho de conversão autêntica ao amor de Cristo. Desejo a vós, queridos irmãos e irmãs, um caminho quaresmal proveitoso, enquanto com afeto envio a todos uma especial Bênção Apostólica.

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