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Maternidade de SP cria projeto especial para mães bolivianas

Cerca de 15% das parturientes do Hospital Leonor Mendes de Barros vieram do país vizinho

Por Alexandre Gonçalves
Atualização:

O Hospital Maternidade Estadual Leonor Mendes de Barros, na zona leste de São Paulo, tornou-se um ponto de referência para as mães bolivianas que dão à luz na cidade. Cerca de 15% das pacientes internadas na unidade vieram do país vizinho. A maior parte está em situação irregular no Brasil. Localizada no Belenzinho, a maternidade fica perto dos bairros Pari e Brás, onde estão concentradas as oficinas de costura em que trabalham a maior parte das imigrantes. Em 2005, a equipe do hospital iniciou um programa especial para acolher as mulheres bolivianas. Délia Aruquipa tem 23 anos. Está em situação regular no País desde 2005. Veio de Manco Kapac, uma província do departamento de La Paz. Na terceira semana de dezembro, deu à luz Daiane, sua primeira filha. Concluiu apenas o ensino fundamental na Bolívia, mas sonha em estudar computação. No Brasil, costura 14 horas por dia de segunda a sexta-feira para ganhar cerca de R$ 500. Recebe pelo material produzido 70 centavos por peça. No sábado, a jornada vai até o meio-dia. Mora com o marido em um alojamento anexo à oficina, junto com outras famílias bolivianas. Quando questionada sobre o tamanho do seu cômodo, olha para a sala onde ocorre a entrevista. "É como aqui", um quarto de aproximadamente 20 metros quadrados. "Não imaginava os sacrifícios que enfrentaria no Brasil", afirma Délia. "As mães, muitas vezes, chegam com medo da deportação", explica a diretora técnica Elisabeth Yamada. "Nós as tranquilizamos para que saibam que ninguém aqui vai denunciá-las." Mariana (nome fictício), por exemplo, não está com os documentos em ordem, mas mesmo assim foi bem atendida. Já recebeu, inclusive, um documento da maternidade que comprova o nascimento de Artur (nome fictício) no Brasil. O papel é exigido no processo de regularização da família. Graças ao trabalho da direção do hospital e da equipe de voluntárias, todas as mães estrangeiras saem com o documento. IDIOMA A boliviana Isabel Mercado Sandoval Bueno vive no Brasil há 40 anos e fala muito bem o português. Já foi enfermeira e colaboradora da Pastoral do Imigrante. Agora, ajuda no Leonor Mendes de Barros. "Para mim é fácil conquistar a confiança das mães", conta Isabel. "Ficam contentes quando descobrem alguém que as compreende." Segundo Elisabeth, a maternidade conseguirá mais cursos de castelhano para as enfermeiras e voluntárias. Já houve até um curso de aymara, língua falada nos países andinos, oferecido pelo Consulado da Bolívia. Muitas parturientes falam aymara. Camila (nome fictício) acompanha o filho que toma um banho de luz para combater a icterícia, problema comum entre os bebês bolivianos. "Tem raízes genéticas", explica Regina Dias de Barros, coordenadora da assistência social. Faltava apenas um ano para Camila concluir a graduação em Letras na Bolívia. Veio ao Brasil para juntar dinheiro nas oficinas. Vivendo como clandestina, sabe que, com o nascimento do filho, poderá pleitear um Registro Nacional de Estrangeiro (RNE). Quase todas as mães que dão à luz no hospital pretendem criar os filhos na Bolívia. Camila é uma exceção. Quer voltar para concluir a graduação na sua terra natal, mas sonha com o futuro do filho aqui. "Terá mais oportunidades", afirma.

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