Materiais especiais ensinam biologia para deficiente visual

Figuras em alto relevo e cartilhas diferenciadas ajudam no aprendizado de alunos do ensino médio

PUBLICIDADE

Por Clarissa Thomé
Atualização:

O aprendizado de biologia ficará mais acessível para alunos do ensino médio com deficiência visual. A professora Nadir Sant?Anna, do Laboratório de Biologia Celular e Tecidual da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), desenvolveu projeto que torna mais fácil para esses estudantes entender conceitos como o de uma célula ou o formato dos órgãos. "É difícil aprender biologia sem visualizar. Na embriologia, há uma fase do desenvolvimento embrionário, por exemplo, em que o embrião tem entre 16 e 32 células e ganha o nome de mórula. Aí o professor diz para o aluno que aquela mórula tem o formato de uma amora. Para quem já viu é fácil. Mas é preciso dar ao aluno com deficiência visual algo que tenha esse formato", afirma Nadir. O exemplo mostra como a falta de referências pode afastar o aluno cego. "Esse tipo de situação desestimula o aluno. Ele não questiona, não interage durante as aulas de biologia", conta Nadir. Então a professora começou a desenvolver objetos didáticos táteis com material de baixo custo, como barbante, contas, vidrilhos e arames. Parte dos modelos também é feita com massa de biscuit, de fácil preparo e modelagem, barata e encontrada em lojas de artesanato. A réplica de um cérebro, que sai por R$ 300 em lojas especializadas, custa R$ 10 pelo método proposto por Nadir. "Não criamos nenhuma técnica, só nos apropriamos de tecnologias já sedimentadas. Disponibilizamos nosso trabalho para todas as instituições interessadas, sem custo." O projeto Produção de Esquemas em Alto Relevo para Deficientes Visuais nas Áreas de Biologia Celular, Histologia e Embriologia é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (Faperj). Além das réplicas, a professora desenvolveu cartilhas com figuras e formas em alto relevo, explicações em braile e acompanhadas por CD, que podem ser lidos pelo programa DosVox, sistema que permite aos cegos utilizarem computador comum. As cartilhas formam o Atlas Tátil. Nadir trabalha agora em materiais para o nível superior. "Ouvi de um estudante cego que ele deixou o curso de Biologia porque era ?virtual demais?. Queremos mudar essa situação."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.