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Mais respostas sobre o hífen

Por Evanildo Bechara
Atualização:

Em resposta aos leitores, compete-nos dizer: sub-humano ou subumano? Nos dicionários portugueses e brasileiros o prefixo sub sempre andou às cabeçadas quando o 2º elemento começava por h - mais recentemente, as reformas de 1943 e 1945 (neste, se tiver vida autônoma) pediam o hífen: sub-humano. Com a chegada de dicionários de grande prestígio, alteraram-se as ocorrências: Aurélio só acolhe subumano; Houaiss registra ambos, mas recomenda subumano; o Dicionário de Usos do Português do Brasil, de Francisco da Silva Borba, só recolhe subumano; a 4ª edição da ABL tem ambas as formas, sem nenhuma discriminação. O acordo de 1990 recomenda a forma hifenada com h - e seria bom que regularizássemos o uso por aí. Mas o peso da tradição continuará aceitando as duas grafias. Pelo menos no Brasil. "Minha dúvida é sobre o uso do hífen nas palavras em que o primeiro elemento termina por vogal e o segundo começa com consoante, não há necessidade de hífen. Vejo, entretanto, guarda-chuva, guarda-sol, guarda-noturno com hífen. Há alguma regra que possamos aplicar?" Esta dúvida nos leva a mostrar a diferença, no comportamento do hífen, entre o princípio relativo ao encontro de vogais e o caso dos exemplos citados com o elemento guarda. Este último caso se inclui no que determina a Base XV do acordo: "Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal ( ... )." Vê-se, pelo princípio, que não se fala em final com vogal no 1º elemento nem em consoante inicial no 2º elemento. Fala-se na natureza nominal (substantivo ou pronome), adjetival, numeral e verbal, não seguido de forma de ligação. Ora, em guarda-chuva e guarda-sol, temos uma forma do verbo guardar que se junta aos substantivos chuva e sol sem o recurso a elemento de ligação. Já em guarda-noturno, como disse bem o leitor, temos o substantivo guarda seguido do adjetivo noturno, ambos sem o intermédio de uma forma de ligação, como temos, por exemplo, em almirante de esquadra, com preposição e sem hífen. O princípio que fala de vogal final do 1º elemento e consoante inicial do 2º se explica no caso dos prefixos reais e falsos prefixos, estes últimos formas presas, como inter (preposição) e micro (forma presa, como não vive normalmente sozinha). Nestes casos é que temos de prestar atenção ao final do 1º elemento e ao princípio do 2º. No princípio lembrado na sua pergunta, teremos aeromoça, neoplastia, etc. Portanto, seus hífens com guarda estão todos corretos. Uma outra pergunta diz respeito ao emprego do hífen em matéria-prima e norte-americano. Pelo que vimos, todos levam hífen. Outra pergunta que nos permite ampliar as observações acima diz o seguinte: "Tenho observado que as pessoas estão confusas a respeito da regra do hífen que separa palavras em que o prefixo termina por vogal idêntica à que inicia o segundo termo, como o exemplo anti-inflamatório. Se as vogais final e inicial dos elementos forem diferentes, não haverá hífens como em autoescola, antioxidante. Certo?" Certíssimo está nosso leitor. Já recebemos um e-mail na Academia, reclamando que a instituição extrapolou sua competência porque o acordo só fala no hífen com vogais iguais, mas não toca na falta do hífen com vogais diferentes! Está claríssimo que o raciocínio (ou a falta dele) não justifica a crítica à Academia. E é tão evidente que o texto não dá razão ao missivista, que tão logo a seguir ao princípio das vogais iguais com hífen, traz esta observação: "Com o prefixo co, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc." *Envie suas dúvidas sobre o acordo ortográfico para o e-mail vidae@grupoestado.com.br Evanildo Bechara é filólogo e gramático, membro da Academia Brasileira de Letras e Coordenador da Comissão de Lexicografia e Lexicologia da instituição

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