Hospitais têm prejuízo com exames de R$ 3 mi

Custo de cintilografia sobe 70% mas SUS não reajusta tabela

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Por Emilio Sant'Anna
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Os serviços públicos de medicina nuclear, que atendem cerca de 10 mil pacientes por dia no País, correm o risco de diminuir ou suspender exames de cintilografia. O motivo é a defasagem na tabela de remuneração do Sistema Único de Saúde. Clínicas e hospitais acumulam prejuízo estimado em cerca de R$ 3 milhões desde fevereiro, quando os geradores de tecnécio (Tc) - principal produto usado para realizar o exame - tiveram alta de 70%. Antes de o aumento ser repassado, a Sociedade Brasileira de Biologia, Medicina Nuclear e Imagem Molecular (SBBMN) calculou o reajuste necessário na tabela do SUS e enviou o estudo ao Ministério da Saúde. Pelo levantamento, os valores pagos pelo governo para os diferentes tipos de cintilografia precisariam ser elevados em 32%, em média. O déficit para as clínicas e hospitais, segundo dados da SBBMN, chegaria a R$ 3 milhões. Apenas os exames de cintilografia óssea, para diagnosticar metástase de câncer nos ossos, teriam gerado prejuízo de R$ 400 mil nesses dois meses. Os exames de cintilografia são indicados em casos de câncer, doenças ósseas metabólicas e vasculares. O aumento no valor dos geradores é resultado da elevação de 200% no preço do molibdênio (Mo), elemento químico que dá origem ao tecnécio e não é produzido no Brasil. Os geradores são fabricados e distribuídos unicamente pelo Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), órgão da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) do Ministério da Ciência e Tecnologia. Com orçamento já definido para 2009, o repasse do custo de produção foi inevitável, diz o superintendente do Ipen, Nilson Dias Vieira Jr. "Se não reajustássemos o valor, em agosto não teríamos mais condições de comprar o insumo." Enquanto isso, hospitais como a Santa Casa, em São Paulo, enfrentam dificuldades para continuar o atendimento na área. O serviço de medicina nuclear é terceirizado e faz cerca de 1,2 mil exames de cintilografia por mês no hospital. Antes do reajuste, a empresa gastava R$ 17.410 mensais. Agora, gasta R$ 29.570. "Se não conseguirmos reverter essa situação, a Santa Casa não terá como continuar arcando com os exames", diz Beatriz Leme, administradora da empresa. "Não podemos interromper os exames, mas não sei até quando os serviços vão aguentar", diz o presidente da SBBMN, José Soares Júnior. Na opinião de Eduardo Nóbrega, diretor do departamento de Medicina Nuclear do hospital A.C. Camargo, o problema mostra a falta de racionalidade do sistema. "Tanto o órgão que vende (Ipen) quanto o que paga (Ministério da Saúde) são do governo", diz. Procurado pela reportagem do Estado, o ministério afirma que ainda está avaliando o reajuste para os procedimentos. O EXAME Utilidade: O radiofármaco emite radiação, o que identifica as estruturas do órgão ou tecido Ingestão: O paciente ingere uma solução com o radiofármaco, medicamento marcado com material radioativo Imagem: A substância ingerida emite partículas de antimatéria. Em relação a outros procedimentos, apresenta a vantagem de formar, por exemplo, a imagem de todo o esqueleto de uma só vez Indicações: Condições traumáticas, tumores, artrites, infecções, doenças vasculares, entre outros

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