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Grupo desvenda origem de raios cósmicos de alta energia

Cientistas de 17 países, incluindo Brasil, localizam fonte de partículas em galáxias que cercam a Via-Láctea

Por Carlos Orsi
Atualização:

As partículas mais energéticas que atingem a atmosfera da Terra viajam centenas de milhões de anos-luz pelo espaço e, muito provavelmente, nascem em buracos negros gigantes, no núcleo de outras galáxias. As duas conclusões são apresentadas por um grupo de cientistas de 17 países - o Brasil também participa - na edição desta semana da revista Science. Leia reportagem completa Raios cósmicos de alta energia são partículas, como prótons ou núcleos de átomos, que se vêem aceleradas a velocidades próximas à da luz e acabam se esfacelando ao colidir com as camadas superiores da atmosfera terrestre. Algumas dessas partículas, as de chamada ultra alta energia, são tão raras que até mesmo sua natureza exata ainda é um mistério. O que se sabe é que as colisões dessas partículas com a atmosfera geram fragmentos que voltam a se chocar com o ar e produzem novos fragmentos. Essa cascata pode acabar sendo detectada pelo Observatório Pierre Auger, em Mendoza, na Argentina. Embora raios cósmicos bombardeiem a Terra continuamente, os raios de energia muito alta e ultra alta são raros: enquanto os raios comuns atingem a atmosfera da Terra à taxa de uma partícula por metro quadrado por segundo, cada quilômetro quadrado da atmosfera é atingido por apenas um raio de alta energia, em média, a cada século. O Auger ocupa uma área de 3 mil km2. Desde 2004 foram detectados 77 eventos de alta energia, sendo 27 de energia extremamente alta. Para precisar a posição original do núcleo que veio do espaço e desencadeou o chuveiro de partículas, o Auger vale-se de detectores dotados de cronômetros com precisão de bilionésimos de segundo. Além dos detectores no solo, conta com telescópios que registram a cintilação, produzida na atmosfera, pelo choque das partículas com os átomos de nitrogênio do ar. "Essas cintilações formam um rastro", explica o físico da Universidade de Campinas (Uicamp) Carlos Ourivio Escobar, coordenador da Colaboração Pierre Auger no País. Descobertos em 1962, os raios cósmicos de alta energia representam um mistério científico. Enquanto os raios comuns podem ser explicados por processos que ocorrem dentro da Via-Láctea -, os de alta energia não têm uma origem plausível em nossa galáxia. Nem mesmo o buraco negro no núcleo da Via-Láctea é poderoso o bastante para criá-los. Agora, os dados levantados pela Colaboração Pierre Auger indicam que a distribuição de origens dos raios de alta energia acompanha a distribuição de galáxias próximas à nossa. Isso sugere que as partículas estão sendo emitidas pelo núcleo dessas galáxias, com buracos negros muito maiores e muito mais ativos que o da Via-Láctea.

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