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Governo não dialoga, dizem temporários

Pacote para o magistério de SP surpreendeu docentes

Por Simone Iwasso
Atualização:

O pacote para a carreira do magistério anunciado anteontem pelo governador José Serra (PSDB) pegou de surpresa professores temporários, efetivos, especialistas e sindicatos da categoria. Por enquanto, a sensação entre eles é que faltou diálogo e que a rede não foi ouvida. Também dizem aguardar detalhes de como as mudanças serão implementadas. Com isso, não sabem se aprovam ou não as alterações na carreira nem de que maneira elas poderão ter impacto na educação. Conforme o Estado antecipou anteontem, o pacote do governo prevê uma prova anual para temporários, com a permanência dos docentes reprovados na rede, mas em carga horária reduzida e funções fora da sala de aula. Será criado um curso de quatro meses e uma prova para todos os ingressantes no magistério a partir do próximo concurso público, que deverá ocorrer no segundo semestre. Deverão ser abertas 60 mil vagas - 10 mil existentes e outras 50 mil a serem criadas. Os projetos de lei que criam as mudanças foram enviados à Assembleia Legislativa, onde ainda precisam ser aprovados para entrarem em vigor. "Esse pacote despertou mais dúvidas do que respostas. Pouca coisa está detalhada e são mudanças que dependem muito de como serão feitas", afirma a educadora Aparecida Neri Souza, da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "Acho interessante e justo o governo selecionar seus professores, mas a questão mais importante, que é a formação deles na sala de aula, o acompanhamento que recebem quando começam a carreira, não foi nem tocada." Para o presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), Robertão Leão, o pacote não explica como será a avaliação, as funções dos temporários não aprovados e também a formação para os concursados. "Sem mais detalhes sobre todos esses projetos, não podemos pensar e debater seriamente essas questões", afirma ele. A opinião é a mesma da Apeoesp, que espera uma reunião com o governo para entender as alterações. "O governo novamente lançou um pacote sem nenhum debate. Professores não foram ouvidos, academia não foi ouvida, a rede escolar também não, até agora não chegou nenhum comunicado", diz o professor Mateus Lima, que leciona história em Cotia. Trabalhando na rede como temporária há 15 anos, Ana, professora de sociologia e geografia que pediu para não ser identificada, afirma que, diante do quadro que enfrenta todos os dias numa escola da zona sul da capital, uma prova de seleção ou um curso de quatro meses não farão nenhuma diferença. "Alunos chegam armados na sala, outros são líderes de gangues e controlam outros grupos, há professores agredidos e pressionados para não denunciarem. Diante disso, você acha que é um cursinho de quatro meses ou uma prova que farão a diferença?", questiona a docente. "Temos situações que nem carcereiros enfrentam. E, todos os anos, não sabemos se vamos ter aulas. Podemos perder aulas de um semestre para outro e temos as mesmas responsabilidades dos efetivos", completa. Para Nara, que é temporária há 21 anos em Igapava, no interior de São Paulo, as medidas ignoram a realidade das escolas. "Decidem no gabinete e acham que vão mudar do dia para a noite uma situação que o próprio Estado provocou por décadas de descaso." O PACOTE Temporários: Todos os temporários deverão fazer uma prova anual para atribuição de aulas. Quem não for aprovado permanecerá na rede em carga horária reduzida e não poderá dar aula Concurso: Deverá ser feito concurso público para preencher 10 mil vagas já existentes e outras 50 mil que serão criadas Formação: Os aprovados em concurso terão de fazer quatro meses de um curso de formação e serem aprovados em uma avaliação final Jornada: Serão criadas duas novas jornadas de trabalho, uma de 12 e outra de 40 horas, além das existentes de 24 e 30 horas

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