Gaúchos começam a usar prótese biônica

Produto permite mais movimento que tipos tradicionais

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Por Elder Ogliari e PORTO ALEGRE
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Uma década depois de terem parte de suas pernas amputadas, os gaúchos Rodrigo Geremias de Souza, de 33 anos, e Jeancarlo Ravizzoni, de 31, recuperaram todos os seus movimentos graças ao uso pioneiro de próteses biônicas no Brasil. "Eu fiz 10 quilômetros em 52 minutos na (corrida) Rústica de Porto Alegre e estou começando a fazer travessia de cânions", conta Souza, satisfeito por estar "andando de Ferrari" depois de ter passado por diversos tipos de prótese. Compara a primeira a um velho Fusca. "Eu não tenho limitações", afirma Ravizzoni, instrutor de rapel e também skatista capaz de fazer manobras radicais na rampa do Parque Marinha do Brasil, na capital gaúcha. Os equipamentos que substituem o tornozelo esquerdo de Souza e o joelho de Ravizzoni foram lançados há menos de um ano na Europa e nos Estados Unidos pela islandesa Ossur, especializada em próteses de alta tecnologia, e já têm cerca de 600 usuários no mundo, inclusive um terceiro brasileiro, segundo a empresa. As próteses integram sensores e microprocessadores capazes de processar 1,6 mil dados por segundo - como peso da pessoa, inclinação e obstáculos do terreno - e são acionados por motores com baterias recarregáveis. Imitam a pisada natural, inclinando o pé ou o joelho em subidas e descidas ou à posição desejada pelo portador quando sentado ou em pé. Nos sistemas mecânicos, a articulação dobra apenas em um sentido e em uma velocidade. Todos os sistemas já foram usados por Souza e Ravizzoni, espécies de test drivers da Clínica Correto, de Porto Alegre, onde trabalham. A comparação que eles fazem mostra o avanço da tecnologia. "Antes, quando ficava muito tempo sentado, desalinhava o joelho e sentia dores lombares", diz Souza. Ravizzoni conta que se cansa menos com a prótese nova. A única dificuldade relatada refere-se às explicações que têm de dar a cada vez que passam por sensores de metais em bancos e aeroportos. Para facilitar as coisas, preferem usar bermudas para deixar as pernas artificiais à mostra. Os acidentes que sofreram acabaram conduzindo os dois gaúchos a um trabalho comum, à amizade e ao gosto pelos esportes radicais. Souza teve de amputar a parte de baixo da perna depois de bater sua motocicleta no pára-choque de um carro na movimentada Rua 24 de Outubro, em Porto Alegre, no dia 11 de setembro de 1997. "Hoje sou mais ativo do que na época", compara. Durante a recuperação, enquanto testava próteses, foi convidado a trabalhar na Correto. Enquanto auxilia na preparação e adaptações de próteses para novos amputados, prepara-se para retomar o curso de Fisioterapia. Ravizzoni também bateu a moto, mas de frente com um carro que trafegava na contramão por uma estrada do interior de Feliz, a 80 quilômetros de Porto Alegre, em 1º de junho de 1996. Depois de usar equipamentos mais simples e peregrinar por fabricantes de sapatos como costureiro e colador, foi convidado a virar auxiliar técnico ortesista da Correto. "Hoje digo que a amputação não limita a vida." O médico Paulo Mulazzani, ortopedista e fisiatra do Hospital Cristo Redentor, referência em traumatologia e amputações de Porto Alegre, diz que a prótese biônica faz muita diferença para o joelho e oferece algumas vantagens para o tornozelo. Amputado na coxa desde a infância por um problema congênito, o médico já testou a novidade. "A resposta é muito boa, exige menor gasto de energia e deixa o usuário mais seguro", comenta. "Pretendo ter uma no futuro." Apesar do entusiasmo, Mulazzani destaca que a prótese biônica tem indicação precisa para pacientes jovens, que precisam manter os movimentos por muitos anos, e para oferecer segurança na marcha. "Isso é importante porque uma queda pode expor a pessoa amputada a danos maiores." Um limitador apontado pelo médico e confirmado pelo protesista e ortesista Jairo Blumenthal, diretor técnico da Correto, é o preço. Pode variar de R$ 40 mil para um tornozelo a R$ 120 mil para um conjunto completo, incluindo joelho. "O interessado deve considerar motivos, rotina, peso e necessidade de movimento para fazer a opção", diz Blumenthal.

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