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Fiocruz tenta produzir vacina para gripe em menos tempo

Método, que usa culturas de células em vez de ovos, ajudaria em casos de pandemia

Por Alexandre Gonçalves
Atualização:

Pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) querem utilizar culturas de células animais para produzir vacinas contra qualquer tipo de gripe. A nova técnica, que prescinde dos ovos, aceleraria a produção da vacina durante uma pandemia. A indústria farmacêutica Novartis, por exemplo, anunciou para setembro o lançamento de uma vacina específica contra a gripe suína produzida em culturas de células. Acompanhe o ritmo de disseminação do vírus Leia tudo sobre os casos e a ação das autoridades Tire suas dúvidas e entenda a atuação do vírus Os primeiros testes clínicos com a nova vacina brasileira podem levar, no mínimo, dois ou três anos para começar. Até lá, o Centro de Pesquisas René Rachou, em Belo Horizonte, e o laboratório público Bio-Manguinhos, no Rio, ligados à Fiocruz, pretendem estabelecer a tecnologia para iniciar a produção. Até o fim do ano, o País, por meio do Instituto Butantã, pretende fabricar doses de vacina usando ovos de galinha. Segundo o gerente do Programa de Desenvolvimento de Vacinas Virais de Bio-Manguinhos, Marcos Freire, não há intenção de competir com o Butantã, que deve suprir a demanda do esforço nacional de imunização contra a gripe. "Em um primeiro momento, queremos apenas desenvolver a técnica no País", explica Freire. "Seria usada em situações emergenciais: se houvesse uma nova pandemia, poderíamos produzir rápido uma vacina." Se o protocolo estiver bem descrito, o pesquisador aposta que seria possível adaptar, em regime de urgência, fábricas usadas para a produção de outros biofármacos. MÉTODO O pesquisador Alexandre de Magalhães Vieira Machado, do Centro de Pesquisas René Rachou, aprendeu a técnica no Instituto Pasteur, de Paris, onde realizou seu doutorado. O método, conhecido como genética reversa, lança mão da biologia molecular para fabricar microrganismos com poucas chances de realizar uma infecção, mas capazes de estimular a resposta do nosso sistema de defesa. Os pesquisadores combinam o material genético do vírus pandêmico com o de um vírus inofensivo chamado PR8. Como há controle estrito dos genes do vírus resultante, Machado argumenta que a técnica pode ser mais segura do que outros métodos de produção de vacinas. "Além disso, não precisaremos de um vírus desenvolvido lá fora", pondera Freire para a vacina. "Teremos independência." O pesquisador também aponta um ganho econômico: com um ovo, Bio-Manguinhos produz 400 doses de vacinas para febre amarela; na imunização contra a gripe, cada ovo processado corresponde a uma única dose. A cultura de células representaria uma solução com um rendimento maior. A ideia de unir esforços para produzir uma vacina com culturas de células surgiu com o surto de gripe aviária em 2005. Nos últimos meses, ganhou força com a pandemia de gripe suína. O Ministério da Saúde afirmou ao Estado que pretende apoiar o projeto por considerá-lo estratégico. Espera apenas um detalhamento. Outros centros espalhados pelo País - como o Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e o Instituto Evandro Chagas (IEC), em Belém (PA) - devem auxiliar a iniciativa. "A produção (da vacina) com ovos pode levar até seis meses", afirma o virologista Wyller Alencar de Mello, do IEC, que já foi contactado para participar do esforço comum. "Com o novo método, seria necessário um mês, algo muito importante quando surge uma pandemia."

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