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Fiocruz amplia ação internacional

Fundação abre escritórios na África como parte de estratégia para tornar-se referência em pesquisa de saúde

Por Alexandre Rodrigues
Atualização:

A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), referência da pesquisa voltada para a saúde no Brasil, quer se transformar também em modelo internacional para países em desenvolvimento. A instituição tem quase 70 acordos com organismos estatais e empresas de todos os continentes. Neste ano, sete convênios foram assinados. A atenção maior está voltada para a África, por ser a região do planeta mais carente na área de saúde, mas a Fiocruz também intensifica a cooperação com países da América do Sul, além das relações que já mantém com instituições da Europa e dos Estados Unidos. O processo de internacionalização permite ao Brasil ampliar a liderança entre os países em desenvolvimento e tornar-se referência no Hemisfério Sul na produção de fármacos e de conhecimento sobre saúde pública. Para dar conta do desafio, a fundação criou assessorias de cooperação internacional em todas as suas unidades e traçou um plano de ação no exterior que supera a mera ajuda humanitária. "Queremos formar os dirigentes desses países, criar instituições estruturantes que terão o Brasil como referência. Não fazemos assistência, mas cooperação técnica", diz o presidente da Fiocruz, Paulo Buss. "Quem é formado por brasileiros no exterior fica com um vínculo afetivo e de respeito pelo Brasil." A principal face dessa expansão foi a abertura de um escritório em Moçambique, em março. Os planos para o país incluem a criação de um curso de mestrado em saúde pública e a construção de uma fábrica binacional de medicamentos. O escritório da fundação em Maputo, a capital, terá apenas dois líderes brasileiros. O resto do pessoal será local. Os representantes brasileiros ainda não foram escolhidos, mas um deles será um sanitarista com experiência para coordenar acordos de cooperação em todo o continente. O presidente da Fiocruz não gosta de chamar a outra posição de comercial, mas diz que o segundo brasileiro ficará atento a oportunidades na área de insumos, desde ações humanitárias até o comércio de vacinas e remédios. A fundação também está levando conhecimento a países como a Nigéria, onde há um convênio para a transferência de tecnologia na produção de anti-retrovirais (medicamentos usados no tratamento da aids). Recentemente, a Fiocruz deu assessoria técnica para uma campanha de vacinação no Congo. Em Guiné-Bissau, ajuda a criar o primeiro instituto de saúde pública local. Em Luanda, capital angolana, representantes brasileiros vão formar os 30 primeiros professores da futura Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) de Angola, projetada na linha da ENSP da Fiocruz, uma das unidades mais respeitadas da instituição. OPORTUNIDADE A possibilidade futura de credenciar o Brasil como um exportador de insumos com a fidelização de países do Hemisfério Sul é um dos objetivos da estratégia internacional da Fiocruz, que tem uma produção anual de 88 milhões de doses de vacinas, 3 milhões de reativos para diagnóstico e mais de 2 bilhões de unidades de medicamentos. "Estamos falando de países que têm uma situação epidemiológica que é quase um genocídio. Como estão se democratizando, começam a ser pressionados para desenvolver políticas públicas, como a cobertura da saúde. Aí surgem oportunidades para nós", afirma Buss. Um mercado potencial é o de vacinas de baixo custo, que já não são rentáveis para multinacionais após a erradicação das doenças nos países mais ricos, mas são essenciais na realidade epidemiológica de africanos e sul-americanos. A fábrica de vacinas da Fiocruz (Biomanguinhos) já produz alguns desses imunizantes, como a vacina da poliomielite. Até 2009, a unidade nacionalizará a produção da vacina tríplice viral (sarampo, caxumba, rubéola) com o acordo de transferência de tecnologia com o laboratório GlaxoSmithKline. O excedente da produção poderá incrementar as exportações brasileiras.

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