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Fazenda investiga empresa de igreja

Relatório da secretaria de SP aponta que Universal estaria por trás de firmas sem sede, mas com capital milionário

Foto do author Marcelo Godoy
Por e Marcelo Godoy
Atualização:

A Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd) estaria por trás de uma rede de 48 empresas, envolvendo 44 pessoas, que contaria com o uso de laranjas "contumazes" e de empresas supostamente de fachada, porque, apesar de capital social milionário, não teriam sede nem telefone. Esse levantamento na estrutura paulista supostamente mantida pela igreja foi feito pela Diretoria Executiva de Administração Tributária (Deat), da Secretaria da Fazenda de São Paulo. A Receita Estadual encaminhou no começo do ano o resultado da investigação em 42 páginas aos promotores do Grupo de Atuação Especial e Repressão ao Crime Organizado (Gaeco). "Não é justificável que se descarte a hipótese de que algumas dessas empresas tenham existência simulada e sejam utilizadas para dissimular atos irregulares", afirma o diretor adjunto do Deat, Antônio Carlos de Moura Campos. A defesa da igreja nega qualquer irregularidade e diz ter sido alvo de fiscalizações da Receita Federal que nada encontraram de errado. Para confirmar suas suspeitas, o diretor do Deat aconselha aos promotores que sejam recolhidos pelas autoridades competentes os contratos de aluguéis dessas empresas, os comprovantes de quitações de correntes de contratos de aluguéis, os registros dos funcionários e folha de pagamento e os registros contábeis e fiscais, principais fornecedores e clientes, entre outros documentos de controle de receitas e despesas. Um dos casos que chamaram a atenção do Deat e dos promotores do Gaeco é o da empresa Unimetro Empreendimentos S/A. Acusada de servir de escoadouro dos recursos arrecados por meio do dízimo dos fiéis e enviá-los ao exterior, a empresa foi aberta em 13 de junho de 1994. Segundo a Deat, seu capital social era de R$ 26 milhões e foi aumentado em janeiro de 2008 para R$ 45 milhões. Ela teve em seu corpo diretor 7 dos 10 réus no processo por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha aberto pela 9ª Vara Criminal de São Paulo. Veríssimo de Jesus, seu atual diretor, é um dos réus. Mas, ao mesmo tempo que seria uma empresa importante a tal ponto que o bispo Honorílton Gonçalves Costa, um dos membros do Conselho Episcopal - o órgão diretor da Universal - tenha sido um de seus diretores, a Unimetro não teria sede nem mesmo número de telefone. Agentes do Gaeco estiveram no edifício Miami Center, na Rua São Carlos do Pinhal, na Bela Vista, centro de São Paulo, atrás da sede da Unimetro e da Cremo Empreendimentos, outra empresa supostamente usada para lavagem de dinheiro desviado do dízimo dos fiéis. No prédio de 14 andares, os agentes encontraram três empresas do suposto grupo da igreja - a Cremo, a Life Empresarial Saúde e a Clínica Santo Espírito. "Mas não a Unimetro", diz o documento do Gaeco, apesar de a empresa ter sua sede naquele endereço, segundo o cadastro da Receita Federal. A Unimetro teve crescimento de 60% em seu capital social entre 2001 e 2008, e a Cremo, um aumento de 120%. Esta teve seis diretores e ex-diretores entre os réus da ação na 9ª Vara, entre eles o bispo João Batista Ramos da Silva - flagrado pela Polícia Federal, em 2005, quando tentava embarcar em um jatinho com R$ 10 milhões no Aeroporto de Brasília. O relatório do Deat analisou dez empresas do suposto núcleo financeiro do grupo, cujo capital social informado era de R$ 94,6 milhões. A Receita cruzou os dados dessas empresas com as 14 do núcleo de comunicação - entre elas três retransmissoras da TV Record, seis rádios e as Redes Família de Comunicação e Mulher de Televisão. Também foram analisadas a composição societária e os endereços de 24 empresas de ramos como alimentação - duas lanchonetes Bob?s e um Habib?s -, agrícola, aviação, médicas, gráficas, etc. LARANJAS E CARROS Entre as 44 pessoas investigadas pelo Deat, há 3 que são chamadas de laranjas. Trata-se de Claudemir Mendonça de Andrade, João Monteiro de Castro dos Santos e José Antônio Alves Xavier. Segundo o Deat, eles têm "atuação contumaz em nome de terceiros sem revelação de identidade do beneficiário dos recursos movimentados". Em nome dos três, segundo o Deat, o Conselho de Controle da Atividade Financeira (Coaf) encontrou "movimentações atípicas" em 2005. Um quarto suposto laranja seria Waldir Abrão. Sobre ele, o Deat diz: "atuação de forma contumaz ou sem identificação da identidade do real beneficiário dos recursos movimentados". O órgão afirma que o Coaf detectou "movimentação atípica" de R$ 361,4 mil em nome de Abrão também em 2005. O relatório do Fisco estadual rastreou ainda todas as aquisições de automóveis feitas sob o CNPJ da matriz da Universal. Entre 1998 e 2008, a igreja comprou 607 veículos ao custo total de R$ 18.664.483,02. Entre os carros comprados pela igreja, segundo a Deat, estão veículos como uma Mercedes-Benz C280 (avaliada em R$ 219 mil); um Cadillac Escalade (R$ 235 mil); uma BMW X5 (R$ 450 mil) e uma Mitsubishi Pajero (R$ 204 mil).

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