Exame aponta problema em leite vendido em SP

Marca goiana contém menos gordura que o obrigatório

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Por Ricardo Westin
Atualização:

Os problemas com o leite vendido nos supermercados brasileiros vão além da adulteração com soda cáustica e água oxigenada. Uma análise encomendada pelo Estado mostra que o leite de uma marca de Goiás contém menos gordura e partículas sólidas que o determinado pelo Ministério da Agricultura. O lote 5.4.6.15 do leite integral longa-vida Marajoara tem 2,7% de gordura e 8,1% de partículas sólidas. De acordo com as normas, deveria conter pelo menos 3% de gordura e 8,2% de partículas sólidas. Especialistas em leite dizem que, sem investigar o sistema de fabricação, não é possível afirmar se esses problemas revelam descuido ou fraude. Questionada sobre o resultado, a Marajoara disse que segue todas as normas e enviou ao Estado uma análise feita em julho pela Universidade Federal de Goiás, a pedido do Procon, mostrando que seu leite estava "de acordo com os padrões". A empresa, localizada em Hidrolândia (GO), fabrica 200 mil litros de leite por dia. Também produz creme de leite, manteiga, leite condensado e queijo. SEM SODA CÁUSTICA A análise encomendada pelo Estado foi realizada pelo laboratório SFDK, que tem sede em São Paulo e é credenciado pelo Ministério da Agricultura para realizar análises de leite. O laboratório também é reconhecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), pela Secretaria de Agricultura de São Paulo e pelo Inmetro. Foram estudadas 11 marcas de leite integral longa-vida compradas no dia 25 de outubro num supermercado da zona norte de São Paulo (veja quadro ao lado). Onze características foram analisadas, como a presença de água oxigenada e de neutralizantes de acidez (a soda cáustica, por exemplo). Não foi encontrado nenhum desses dois problemas. De todas as 11 marcas, só a Marajoara estava fora dos padrões determinados pelo Ministério da Agricultura. Para que não houvesse dúvidas, o laboratório repetiu os exames e os resultados foram os mesmos. MANTEIGA No quesito gordura, o índice encontrado no leite da Marajoara foi de 2,7% (10% a menos que o obrigatório). Como comparação, o leite da Batavo tinha 3,4% de gordura; a marca Bom Gosto, 3,3%. No item partículas sólidas (como proteínas e açúcares), o índice da Marajoara foi de 8,1% (1,2% a menos que o valor obrigatório). O produto da Batavo tinha 8,7%; as marcas CompLeite e Paulista, 8,6%. Na avaliação de um dos especialistas em leite ouvidos pelo Estado, os problemas com a Marajoara podem ser resultado ou de falta de controle ou de fraude. A gordura retirada do leite é um produto nobre - é usada na produção de manteiga e creme de leite. No caso das partículas sólidas, um índice baixo pode ser sinal de que o produto foi diluído com água ou soro de queijo para render mais. "Esses dois problemas podem ter ocorrido por descuido ou por má-fé da empresa. De qualquer maneira, são um crime", afirmou o especialista. Os problemas com o leite brasileiro vieram a público no dia 22 de outubro, quando a Polícia Federal deflagrou uma operação que prendeu pessoas ligadas a supostos esquemas de adulteração de leite longa-vida. Os produtos, fabricados nas cidades mineiras de Passos e Uberaba, receberiam soda cáustica e água oxigenada. Ilegal, a adição de soda cáustica e de água oxigenada torna mais barato o processo de industrialização. Quando o leite tem microrganismos em excesso por falta de higiene, a água oxigenada age esterilizando-o. Substitui a refrigeração, que é o procedimento recomendado, porém mais caro. A soda cáustica acaba com a acidez provocada pelos microrganismos - como o leite não está ácido, tem-se a impressão de que está livre de impurezas.

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