EUA testam modelo-robô que substitua uso de cobaias

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Por Redação
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O governo americano está estudando maneiras de testar a segurança de misturas químicas - de produtos de limpeza doméstica a pesticidas - em robôs, em vez de animais. A dúvida é se as máquinas seriam tão eficientes em demonstrar toxicidade quanto modelos vivos. Os Institutos Nacionais de Saúde (NIH, na sigla em inglês), principal órgão financiador de ciência dos Estados Unidos, e a Agência de Proteção Ambiental anunciaram anteontem a análise da estratégia alternativa. Ela consiste em misturar os produtos químicos com células humanas. Eles seriam analisados por um robô que pode detectar, em minutos, morte de células e outros danos sutis, um indicativo de que mais estudos seriam necessários. O programa "tem realmente o potencial de revolucionar a forma como químicos tóxicos são identificados", diz Francis Collins, chefe do Instituto de Pesquisa do Genoma Humano dos NIH. O resultado pode ter impacto na forma como a ciência é feita em todo o mundo. Atualmente, a maioria dos testes é realizada com injeções de altas doses dos produtos em animais de laboratório, especialmente roedores. Se ficam doentes, são sacrificados e o tecido afetado passa por análise. Além das preocupações éticas sobre o bem-estar dos animais, o processo é trabalhoso e lento: em 30 anos, a principal agência americana de testes, o Programa Nacional de Toxicologia, encerrou o processo de apenas 2.500 produtos. Segundo o chefe do Centro de Genômica Química dos NIH, Christopher Austin, a nova estratégia, se provada eficaz, poderia testar essa mesma quantidade em uma única tarde, cada uma em 15 exposições diferentes. O uso de animais ainda apresenta outros problemas. As pessoas são normalmente expostas a dosagens muito menores do que as aplicadas em laboratório. Além disso, nem sempre o teste com animais prevê algum efeito desastroso em humanos. O caso mais célebre é o da talidomida, vendida como remédio para dormir e que provocou deformações em fetos. Mesmo assim, os cientistas não acreditam que as cobaias serão abandonadas totalmente. Se o teste com células for confiável, os animais entrariam apenas quando houvesse dúvidas importantes de saúde pública. "Não dá para mudar do dia para a noite", afirma o diretor dos NIH, Elias Zerhouni. Collins também lembra que a estratégia, apesar de promissora, é experimental: "Ainda não sabemos se isso vai ser tão bom quanto gostaríamos." Num primeiro momento, elementos já comprovados, seguros ou tóxicos, passarão pela bateria robótica em diversos laboratórios financiados pelos NIH. No Brasil, um projeto de lei que regulamenta o uso de animais em pesquisas tramita na Câmara dos Deputados desde 1995. No ano passado, o prefeito do Rio, Cesar Maia (DEM), sancionou um texto que, por dar margem a interpretações, poderia proibir o uso de cobaias. Uma reação imediata da comunidade científica nacional fez o Rio voltar atrás. Cientistas também pediram o veto a um projeto similar de Florianópolis.

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