Estudos apontam que ação do homem inicia nova era geológica

Cientistas chamam fase de Antropoceno, que teria começado com a Revolução Industrial

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Por Redação
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O impacto provocado pelo homem no planeta tem sido tão extenso que teria iniciado uma nova época geológica, já chamada de Antropoceno. A idéia, lançada em 2000 por um vencedor do Nobel, ganhou força neste ano com a publicação de dois artigos científicos que pedem o reconhecimento da mudança. Oficialmente, vive-se uma época chamada Holoceno, que começou 11.750 anos atrás com uma série de mudanças climáticas e o fim de uma era glacial. Porém, geólogos propõem que a Revolução Industrial, no século 18, teve impactos profundos no planeta e pedem o reconhecimento oficial do Antropoceno pela Comissão Internacional de Estratigrafia. Os principais sinais são aumento da temperatura média global, transformações em padrões de erosão e sedimentação e no ciclo do carbono e acidificação dos oceanos, afirmam os especialistas Jan Zalasiewicz e Mark Williams, da Universidade de Leicester, na Grã-Bretanha, na última edição da revista GSA Today, da Sociedade Geológica Americana. Eles também lembram a crescente taxa de extinção de plantas e animais e o trânsito de espécies exóticas pelo mundo, de forma deliberada ou acidental. Essas mudanças têm deixado marcas em camadas sedimentares, que serão facilmente identificadas no futuro, tal como os geólogos contemporâneos observam camadas antigas para estabelecer outros períodos da história, dizem os autores do artigo. "As mudanças levam a um sinal estratigráfico significativo. A camada que está sendo formada agora carregará um sinal distinto, comparável àqueles do passado", diz Zalasiewicz. Outro artigo, publicado na revista Soil Science, foca apenas na infertilidade do solo para defender o Antropoceno. Segundo o cientista Daniel Richter, da Universidade Duke, nos Estados Unidos, o fato se torna uma grande questão científica e política quando mais da metade do solo terrestre é usado de forma exploratória pelo homem. ARGUMENTAÇÃO A história da Terra conta com cerca de 4,5 bilhões de anos e é dividida em éons, eras, períodos e, finalmente, épocas. Evidências geológicas mostram que, nos primeiros 2 mil a 3 mil anos do Holoceno, a temperatura e o nível dos oceanos subiram num primeiro momento e depois se estabilizaram, no mais longo período interglacial dos últimos 250 mil anos. O químico Paul J. Crutzen, do Instituto Max Plank, na Alemanha, e vencedor do Nobel de Química de 1995, foi o primeiro a defender abertamente a época antropocênica ("antropo" significa homem) e a Revolução Industrial como marco, uma vez que a influência humana se tornou evidente desde então. Em um artigo publicado no boletim do Programa Internacional Geosfera-Biosfera, Crutzen defendeu sua tese ao dizer que "a taxa de urbanização aumentou dez vezes no último século" e que, "em algumas gerações, a humanidade extinguirá os combustíveis fósseis gerados ao longo das últimas centenas de milhões de anos". O texto teve repercussão quase imediata entre os geólogos. O cientista Andrew Gale, da Universidade de Portsmouth, membro da Sociedade Geológica de Londres, disse ao jornal The Times que concorda com o argumento do químico e de seus colegas geólogos. Segundo ele, "as atividades humanas tornaram-se a principal força por trás das grandes mudanças na topografia e no clima". Segundo ele, "você não pode ter 6,5 bilhões de pessoas morando em um planeta do tamanho do nosso e explorar cada recursos possível sem provocar gigantescas alterações nos ambientes físico, químico e biológico, que estarão refletidas de forma dramática em nosso registro geológico."

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