Estudo questiona ações antiaids no carnaval

Trabalho mostra não haver aumento de casos da doença depois da folia

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Por Clarissa Thomé
Atualização:

Pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF), com base nos registros de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) no setor de atendimento gratuito da instituição, põe em xeque a relação entre sexo e carnaval e questiona a estratégia do Ministério da Saúde de realizar campanhas durante a folia. Segundo o estudo, não há aumento de casos de DSTs no período posterior ao carnaval - o que mostraria que a festa não influencia o comportamento das pessoas. Também não houve aumento de gravidez não planejada - os pesquisadores analisaram números de partos e abortos. "Não há indicativo de que as pessoas façam mais sexo nesse período. E a campanha não é eficiente porque não temos redução no número de pacientes no pós-carnaval", afirma a médica Wilma Nancy Campos Arze, autora do trabalho. A pesquisa foi contestada pelo chefe da unidade de DST do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, Valdir Pinto. "A pesquisa foi feita pelo ambulatório de uma universidade em um bairro de Niterói. Não se pode inferir que o resultado valha para todo o Brasil." Ele também lembrou que há programas de prevenção além das duas campanhas nacionais no carnaval e em 1º de dezembro, dia mundial de combate ao HIV. "Não faria sentido campanha nacional para o Festival de Parintins, que só ocorre no Amazonas, mas há campanhas locais e isso ocorre em outras regiões", disse. Pinto também discorda que as pessoas não fazem tanto sexo no carnaval. "O carnaval é uma festa popular grande, em que as pessoas bebem mais, saem do cotidiano e estão mais vulneráveis." Wilma Arze revisou 10.337 prontuários de pacientes que chegaram ao serviço pela primeira vez entre 1993 e 2005. Foram selecionados os que tinham os tipos mais comuns e curáveis de DSTs - sífilis, gonorréia e tricomoníase. Junho, julho e agosto concentravam o maior número de casos e não o mês seguinte ao carnaval, passado o tempo de incubação. A médica também usou dados do Sistema Único de Saúde (SUS) de nascimentos e abortos. Em Niterói, Estado do Rio e Brasil, maio concentra o pico dos partos (as crianças foram geradas em agosto). "Se carnaval e sexo tivessem tanto a ver, teríamos aumento de partos em outubro, o mês com menor número de nascimentos em todo o País", disse Mauro Romero Leal Passos, orientador do trabalho.

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