Estudo aponta risco de febre amarela urbana transmitida por novo vetor

Presença do ?Aedes albopictus? onde circula vírus da doença tem ?conseqüências imprevisíveis?, diz pesquisa

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Por Fabiane Leite
Atualização:

Estudo financiado pelo Ministério da Saúde alerta para uma "ameaça potencial à expansão territorial do vírus da febre amarela silvestre" no País, "com conseqüências imprevisíveis para a saúde pública". Segundo o trabalho, publicado na edição de janeiro de revista do Sistema Único de Saúde (SUS), a presença do mosquito Aedes albopictus em áreas de circulação do vírus da febre amarela traz risco de ressurgimento da forma urbana da doença, uma vez que o inseto consegue viver nas matas e nas cidades. Isto é, poderia ser a ponte para que o vírus, que hoje circula apenas em matas, passe a transitar também em áreas urbanas. Em entrevista ao Estado, um dos autores do estudo destacou que ainda não foi comprovado o envolvimento do Aedes albopictus em casos da doença entre humanos. No entanto, afirma, o trabalho alerta para que a vigilância de focos do A. albopictus seja adotada como ação preventiva contra a expansão da doença, nos moldes da vigilância feita hoje sobre seu "parente", o Aedes aegypti, transmissor da dengue. "Corremos um sério risco. Todos os testes mostram que este mosquito é suscetível ao vírus da febre amarela. Se ele é suscetível, e transita em área onde há circulação do vírus, pode fazer a ponte deste e de outros vírus silvestres para as áreas urbanas", afirma Almério de Castro Gomes, um dos pesquisadores , ligado ao Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. No trabalho, foram achados os mosquitos em três municípios do Rio Grande do Sul e Minas, onde há circulação do vírus. Segundo os autores, "a infestação da espécie cresce na direção de focos silvestres do vírus", evolução que parece estar ocorrendo em Minas e Goiás. A febre amarela urbana não é registrada no País desde 1942. Os 31 casos da doença que ocorreram de dezembro até agora no País, a maior parte deles em Goiás, são todos de febre amarela silvestre, transmitida pelos mosquitos Haemagogus, nativos das matas. ÁGUA PARADA Assim como o mosquito da dengue, o Aedes albopictus gosta de água parada e limpa, mas prefere locais arborizados para reprodução. De origem asiática, o albopictus tem o corpo com manchas brancas e pica durante o dia. Foi detectado pela primeira vez no Brasil em 1986, mas, segundo Gomes, não houve preocupação em vigiar sua expansão, apesar de haver estudos analisando a relação também com transmissão de dengue. Hoje apenas cinco Estados não têm infestação da espécie. O mosquito da dengue também pode transmitir a febre amarela urbana, mas ele não transita por matas. É necessário que um homem seja infectado em ambiente silvestre e depois picado pelo Aedes aegypti na cidade para a transmissão a outras pessoas de área urbana. Já o Aedes albopictus pode transitar, contaminado, da mata para cidades, infectar alguém e, com a ajuda de seu "parente", levar ao rápido crescimento da doença. Além disso, o albopictus também transmite o vírus a seus "descendentes", ajudando na manutenção da circulação do agente causador da febre amarela. Nos EUA, há vigilância sobre focos do albopictus pelo risco de transmitir o vírus La Crosse, da encefalite eqüina venezuelana do leste. "Os governos no Brasil não deram importância", diz Gomes.

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