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Estrelas mirins

Uma legião de crianças brilha em comerciais, novelas ou programas de TV, quase sempre com o incentivo dos pais

Por Vera Fiori
Atualização:

Acompanhados dos pais, tios ou avós, a maioria de aparência humilde, eles vão chegando aos montes nas agências de modelos infantis Baby e Vogue, ambas no bairro de Pinheiros. Tem uma loirinha de olhos azuis com cara de sueca que mal sabe andar, uma menina negra saltitante com tererês nos cabelos, um garoto de cabelo engomado com roupa de festa e bebês de todas as etnias. Em apenas uma tarde, já daria para montar um elenco infantil para desfiles, comerciais e novelas. A campainha não pára de tocar e o estúdio fotográfico vai ficando apertado para tantos aspirantes a celebridade. A cada flash das câmeras, ouve-se um choro. Caramba, vida de estrela não é nada fácil. Foi por meio dessas agências que a "top model" da nossa capa, Klara Castanho, de 6 anos, chegou ao estrelato. Ela é a Bel de Mothern, seriado exibido no canal GNT. Também pode ser vista na telinha no comercial da Samsung, no qual contracena com a humorista Maria Clara Gueiros e numa propaganda de margarina. Segundo a mãe, Karla Castanho, depois que a foto de Klara saiu numa revista feminina, começaram a surgir vários convites. Em sua precoce carreira, a pequena já fez cerca de 60 trabalhos, entre fotos e comerciais. A garota de cabelo chanel, olhos expressivos e longos cílios conquista todos à sua volta com a gargalhada gostosa e tiradas espontâneas. Diz que adora Mothern, mas que não é nada parecida com Bel, sua personagem. "Ela é mal educada", fala, na lata. O episódio do qual mais gostou foi o da "perua", em que Bel cismava de ir a uma festa de aniversário com sapato de salto, bolsa com brilho e "muitas pulseiras". Rindo, a mãe conta que, no primeiro dia de gravação, Fernanda Umbro (atriz que faz a mãe de Klara e a única do elenco sem filhos nem muita afinidade com crianças) saudou a menina com um seco: "e aí, beleza?" Mas não é que rolou a maior química entre as duas? "A Fernanda faz muita palhaçada", derrete-se a pequena Klara. Até onde vai a carreira é uma coisa que a mãe deixa para a filha decidir. "O dinheiro dos cachês é colocado na poupança e a escola é sempre a prioridade." De tanto perguntarem, a ruivinha Marina Ruy Barbosa, de 12 anos, colocou no seu site um quase aviso, no qual diz que não tem nenhum parentesco com o autor de novelas Benedito Ruy Barbosa. Por outro lado, é tataraneta de outro ilustre personagem brasileiro, o jurista e orador Ruy Barbosa. Sorte dela que tem no DNA o gosto pelos estudos. Se não fosse dedicada à escola, não estaria na telinha. Este foi o trato que fez com os pais, Gioconda e Paulo Ruy Barbosa, que sempre investiram na educação da única filha. Segundo o pai, fotógrafo, a vontade de Marina - com atuações em editoriais de moda, publicidade, teatro, cinema e TV - é seguir a carreira e, no futuro, quem sabe, fazer um curso de direção de cinema. "Ela faz isso porque gosta. Temos uma situação financeira confortável", afirma. A atriz, que, no momento, está na novela global Sete Pecados, no papel de Isabel, conta que jamais vai esquecer de sua participação em Belíssima, também da Globo. "Foi um aprendizado contracenar com grandes atores como Cláudia Abreu, Tony Ramos, Glória Pires e Fernanda Montenegro. Fiquei um mês na Grécia, aprendi até grego." Mais maravilhoso, segundo Marina, foi o elogio que recebeu do autor Sílvio de Abreu ao final da novela. "Fiquei muito, mas muito feliz, porque ele gostou do meu desempenho." COMERCIAL DA VEZ Não tem meio termo: ou você acha engraçadinho ou detesta o comercial de Glade, um purificador de ar. Nas horas mais impróprias, como no jantar, por exemplo, eis que o ator mirim Gabriel Macri, de 6 anos, aparece na TV, querendo fazer "cocô na casa do Pedrinho". A justificativa para o meigo pedido é que, na casa do amigo, o banheiro é perfumado. Outra coisa que chama a atenção é a pronúncia com que o garoto fala "Pedrrrinho", com o erre acentuado por conta das sessões que ele tinha com uma fonoaudióloga na época. No final das contas, quem paga o mico pelo comercial é a mãe de Gabriel, a professora Andréa Almeida Mello. "No começo, caía nas pegadinhas dos amigos, mas agora estou esperta", brinca. Andréa conta que o convite para Gabriel ingressar nessa área partiu de um encontro casual com a dona da agência Tops em Ação, no Rio. "O Gabriel tem boa memória para decorar textos e, já no primeiro teste, foi aprovado para este comercial ." Acredite se quiser, só para fazer cocô na casa do Pedrinho, Gabriel agüentou firme 12 horas de gravação. Segundo Andréa, enquanto ele se divertir com este tipo de trabalho, a família vai levando. Por sua vez, Gabriel conta que gostou do trampo, apesar de errar a cena "umas 10 mil vezes." Confidencia que o banheiro era de mentirinha e que o vaso sanitário nem água tinha. Por fim, despacha a repórter, porque um "prato cheio de comida" esperava por ele. PRECOCE A dona de casa Gislaine de Souza Silva Andrade, que mora em São José dos Campos, não ficaria surpresa se o bebê que esperava falasse ainda na sua barriga. A mãe de Maísa Silva, de 5 anos, a garota espevitada que se apresenta nos fins de semana no programa de Raul Gil, conta que, nas visitas ao pediatra, o desenvolvimento da menina era diferente do das outras crianças. "Ela foi um bebê precoce. Sentou, falou e andou antes do tempo." Com 2 anos, já prestava atenção ao programa de Raul Gil. "Virou-se para o avô e disse que ele iria vê-la na TV." No aniversário de 3 anos, não quis brinquedo nem festa. Pediu ao pai o Raul Gil de presente. " Fomos até a emissora para conhecer o ambiente. Não temos parentes no meio artístico, somos tímidos, o oposto dela." Quando a produção bateu o olho na menina dublando o grupo musical Rouge, surgiu o convite para a participação no quadro Eu e as Crianças. "Ponderamos com medo da exposição, mas a produção dá um atendimento realmente especial às crianças." Funcionária contratada, Maísa participa de mais outro programa aos domingos, Homenagem ao Artista, e também divide o palco com o apresentador. Autodidata, a garotinha bola as próprias coreografias e tem resposta para tudo na ponta da língua. Até Ivete Sangalo, homenageada pela cantora mirim, ficou de queixo caído com sua performance. Sobre o futuro, a mãe diz que a carreira dura até quando a garota se sentir feliz. O cachê que recebe vai para os estudos e ajudou os seus pais a fazerem a sua matrícula em uma escola particular. Enquanto isso, a cantora vai colhendo os louros da fama. "Em loja, supermercado, sempre junta uma rodinha ao redor dela. O pai sempre fala: ?menos Maísa, menos?." PAIS BALANÇAM Quando soube que seu filho Gabriel havia passado no teste, entre outras 70 crianças, para fazer o papel do personagem Francisco, na novela global Páginas da Vida, sua mãe, a publicitária Denise Kaufmann, conta que perdeu o sono. "Era muita responsabilidade." No começo, Gabriel, que entrou na novela com 4 anos, tinha poucas falas. Depois, o texto foi aumentando e, com a ajuda da coach do elenco infantil, Rosana Garcia, ele foi se desenvolvendo ao longo da história. Apesar de pequeno, não confundia ficção com realidade. "Às vezes, ele se referia ao ator Marcos Caruso como ?vovô Caruso?." Quando terminou a novela, a emissora quis renovar o contrato com Gabriel até 2009. "Pedimos um tempo para pesar a decisão. Conversamos muito com ele em casa. Uma hora, ele dizia que não queria mais, depois mudava de idéia de novo. É difícil decidir por eles." Alegre, irrequieto e espontâneo, Gabriel, torcedor fanático do América, só se assusta um pouco com o assédio do público, mas, segundo a mãe, ele gostou da experiência e logo deve pintar na telinha de novo. CAÇA TALENTOS A Tops em Ação é uma agência de modelos e atores do Rio que oferece cursos de interpretação em teatro, televisão, cinema, moda, dança e canto. Segundo sua diretora, Ieda Ribeiro, em 70% dos casos, parte dos próprios pais a idéia de estimular a carreira infantil de modelo e ator. Será que projetam nas crianças sonhos como ter fama, virar celebridade? "Totalmente", responde ela. Com anos de experiência, Ieda fala que é complicado lidar com as expectativas das famílias. "Afirmam que seus filhos são os melhores, que têm de acontecer." Pior é quando a criança cresce e "perde a graça", e os trabalhos são assumidos por outro rostinho da vez. Um exemplo é o Ferrugem, aquele menino ruivinho com sardas que sumiu da mídia. "Não há planejamento de carreira. Tudo vai depender do sentimento e da aptidão deles quando crescerem. Tive vários Ferrugens na minha vida!"

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