Estreia no ginecologista

Apesar da facilidade de informação e da quebra de tabus, a primeira consulta ginecológica ainda gera ansiedade

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Por Cristiana Vieira
Atualização:

Ele fala grosso, tem barba e cara de bravo. "Mas a meninada não está nem aí", brinca o simpático ginecologista e obstetra Jorge Ignacio Rubin, ao comentar sua experiência em atender as mocinhas que cruzam a porta do seu consultório pela primeira vez na vida. Fantasia-se muita coisa antes de enfrentar esse misterioso doutor, ou doutora. Mas o fato é que o ginecologista acompanhará a mulher por toda a vida. "Somos uma ferramenta poderosa para dar informações sobre o que acontece com o corpo da mulher e como ela deve se cuidar, de forma personalizada e adequada a ela", enfatiza Rubin.O ideal é que essas consultas comecem por volta dos 10 anos, quando o corpo feminino passa por leves mutações - o que os médicos chamam de desenvolvimento sexual secundário. Nessa fase, começam a surgir pelos pubianos e mamas, e os hormônios femininos entram em funcionamento. É o momento certo para fazer alguns diagnósticos de normalidade e de transtornos, malformações do aparelho reprodutivo e alterações hormonais mais graves. "Na primeira consulta não é feito exame interno. Examinamos mamas e genitais, conferimos a oleosidade da pele e se existe algum sinal de secreção vaginal", explica a médica, mestre em ginecologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), e especialista em Sexualidade Humana, Flávia Fairbanks. A segunda consulta deve ser marcada poucos meses após a primeira menstruação. Nessa fase, é preciso entender o que é e como funciona a ovulação, além de informar-se sobre a vida sexual. "É quando temos a obrigação de dar orientações sobre HPV e até discutir sobre anticoncepcional", diz a médica.RECEOSAQuando completou 15 anos, a jovem Nayara Alves dos Santos Azeituna, hoje com 17, foi tremendo à ginecologista. "Fiquei muito nervosa, pensei que ela fosse me examinar, mas foi normal", lembra. Nayara escolheu uma médica do plano de saúde e foi acompanhada da mãe. "Ela explicou o que acontece com o corpo quando estamos menstruadas, e falou sobre ovulação. Coisas que eu aprendi na aula de educação sexual. Mas, no consultório, fiquei mais à vontade para tirar dúvidas. Na aula tem os meninos presentes."Quase dois anos depois, Nayara passou pela segunda consulta. Dessa vez, foi sozinha, pois sua mãe não pode acompanhá-la por causa do trabalho. "Quando a médica pediu para eu me deitar e tirar a calcinha, fiquei com medo que colocasse algo que fosse me machucar. Mas não", conta ela, que, segundo a médica, está liberada das consultas e só deve retornar no momento em que estiver pronta para ter relação sexual.Quando o assunto é iniciação sexual, as mocinhas preferem ir sozinhas ao consultório. "Se a menina não é mais virgem, tem de colher papanicolau para começar a prevenção do câncer de colo de útero", explica Flávia. O problema é quando a mãe a acompanha na consulta, mas nem desconfia que a filhinha já tem vida sexual. Aí o médico tem de ter jogo de cintura para tirar alguma dúvida capciosa, nem que seja pela linguagem dos sinais. Eventualmente, terá de receitar uma pílula. E para não assustar a mãe nem colocar a paciente em risco, seja de doença venérea ou de gravidez indesejada, há casos em que receitam a pílula com a desculpa de que é para tratar a pele. "Tem mãe que interfere. E há também menina muito mais conservadora do que a própria mãe", conta a médica. Vale ressaltar que o médico é resguardado pelo sigilo profissional. Ou seja, se a mãe quiser que ele responda se a filha é virgem ou não, ele simplesmente não pode responder. "E quando argumenta isso diante da mãe, a menina passa a confiar mais no seu médico", fala a doutora. Depois que essas consultas se tornam uma rotina, os assuntos variam: planejamento familiar, gravidez, parto, menopausa...NOVOS TEMPOSO perfil das pacientes do doutor Rubin mudou bastante na última década. Segundo ele, alguns anos atrás, as meninas chegavam ao consultório com um ar amedrontado. "Hoje elas têm colocado seus problemas, querem saber sobre pílulas, doenças venéreas... Me enfrentam numa boa", relata. E quando isso não acontece, ele tenta brincar e conversar, porque sabe que se trata de uma situação desconfortável.A vantagem é que a nova postura dessa moçada que frequenta seu consultório coincide com uma diminuição dos casos de gravidez indesejada. Por outro lado, o ginecologista lamenta o mau uso da pílula do dia seguinte, pois, segundo ele, elas não sabem que sua eficácia é muito baixa. O importante, acredita, é que a mulher saiba se cuidar, e que essa cultura comece cedo. Em casa.ROTEIRO PRÉ-CONSULTA Não marque a consulta para o período menstrual. O ideal é agendar para a primeira semana após a menstruação, por ser este o melhor período para apalpar as mamas sem que a paciente sinta as dores e incômodos do período pré-menstrual. Anote o dia dos últimos ciclos, quanto tempo duraram e se houve algum tipo de desconforto, como cólicas, por exemplo. Anote suas dúvidas para não esquecer de perguntar, caso fique nervosa. Não se assuste caso a secretária lhe dê um questionário enorme com perguntas sobre vida sexual, ou com questões como: se na família há algum caso de diabete, de câncer de mama ou de colo do útero. Confira sua carteira de vacinação para ter certeza que já foi vacinada contra rubéola e hepatite B. Não é necessário raspar os pelos para a consulta, afinal, eles protegem o corpo.É NORMAL... Ter algum tipo de secreção vaginal. É que a função hormonal aumenta e a vagina tem um processo de descamação periódica. O ciclo menstrual ficar irregular durante até dois anos. Uma mama desenvolver-se mais do que a outra. O médico pedir um raio-x da sua mão. Esse exame mostra a idade óssea e, assim, o especialista terá mais detalhes sobre o grau de desenvolvimento sexual da paciente. O pediatra encaminhá-la para o ginecologista, pois ele vai notar que está entrando nessa fase de desenvolvimento e, por isso, precisa de outro especialista.

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