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Estratégia oficial contra gripe suína passa a ser de ''redução de danos''

Presidente avaliza posição do Ministério da Saúde de recomendar adiamento de viagem para Argentina e Chile

Por Ligia Formenti
Atualização:

A estratégia de combate aos casos de gripe suína no País está aos poucos mudando de enfoque. Diante do avanço dos registros da doença e da convicção de que, em um futuro próximo, a pressão deve permanecer, o Ministério da Saúde restringiu a forma de tratamento e diagnóstico de casos. Um sinal, para o diretor do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, David Uip, de que o Brasil caminha da posição inicial (de bloquear casos) para outra, de reduzir danos.   Veja também: Vírus resiste a remédio na Dinamarca RS tem 2ª cidade em emergência após suspeita de gripe suína 'Ministério está correto, mas não se sabe tudo da doença' Mapa: veja como a gripe está se espalhando Entenda a gripe suína: perguntas e respostas  Infectologista esclarece cuidados que serão tomados  Veja galeria de fotos da gripe suína pelo mundo   'Meios de transportes facilitam a propagação' Folheto oficial do Ministério da Saúde  "Está claro que a expansão da doença no País é inevitável e que, o mais sensato, é reduzir a gravidade dos casos e evitar mortes", avaliou Uip. Outras mudança, diz o professor emérito da Universidade de São Paulo (USP), Vicente Amato Neto, deverão ainda ocorrer. "É perfeitamente compreensível, natural. Não adianta o Ministério da Saúde afirmar que a estratégia será a mesma", disse ele. O avanço da gripe suína preocupa tanto o governo que o assunto virou pauta da reunião da coordenação política, realizada no Palácio do Planalto, tradicionalmente, às segundas-feiras. Diante dos chamados "ministros da Casa" e assessores mais próximos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalizou a decisão do ministro da Saúde, José Gomes Temporão, de aconselhar que os turistas adiem as viagens para Argentina e Chile, e determinou que o País fique em estado de "alerta absoluto". Ontem, o Ministério da Saúde não registrou casos novos. Até o início da tarde, eram contabilizados 625 pacientes com confirmação da doença - dois a menos do que o registrado no boletim de domingo. A alteração foi provocada pela correção da lista, que havia registrado dois nomes mais de uma vez. Outros 673 pacientes com suspeita de gripe suína eram acompanhados no País. A maioria dos infectados havia viajado para a Argentina (235 pacientes). O Brasil registrou até o momento uma morte provocada pela gripe suína. O fato, lamentado pelo Ministério da Saúde, foi considerado previsível por especialistas. Até agora, a taxa de mortalidade é de 0,4%. Um índice baixo e que, para o ministro Temporão, ajuda a tranquilizar a população. Para Amato Neto, no entanto, é cedo para afirmar que a doença vai apresentar no País taxa semelhante. O professor de medicina preventiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro Celso Ferreira Ramos Filho tem avaliação semelhante. Ele argumenta que a baixa mortalidade registrada até agora é resultado principalmente dos números apresentados nos Estados Unidos. "Naquele país, o número de registro de casos foi grande, principalmente por causa da facilidade de acesso ao diagnóstico. Ao mesmo tempo, poucos foram os pacientes que tiveram um quadro mais grave." Um comportamento diferente do apresentado no México e na Argentina. "Nesses dois países, as taxas foram maiores. Vamos ver em que perfil o Brasil vai se encaixar." O Estado procurou o ministério para comentar a avaliação, mas não teve resposta. Os especialistas acreditam que as mudanças nas recomendações feitas pelo ministério na sexta-feira sobre diagnóstico e tratamento foram adequadas. Para Ramos Filho, no entanto, a recomendação (reforçada ontem) para que pessoas mais vulneráveis à doença adiem viagens para o Chile e Argentina pouco valem. "Há nisso uma eficácia reduzida. Dentro de pouco tempo, o número de casos no Brasil deve aumentar." O QUE MUDOU 24 de abril: Após notificação de casos no México e EUA, a Organização Mundial da Saúde ativa centro de operações global 25 de abril: O Ministério da Saúde no Brasil forma um Gabinete Permanente de Emergências 1.º de abril: Primeira alteração na classificação de caso suspeito. Passam a ser considerados suspeitos casos de pessoas com febre alta repentina (acima de 38°C), tosse, dor de cabeça e dores musculares, procedentes de países com confirmação da propagação do vírus. Também são suspeitos os casos de pessoas apenas com sinais da gripe, mas que tiveram contato próximo com infectados 1.º de junho: Decisão do Grupo Executivo Interministerial para Pandemia de Influenza (GEI) manda internar só pacientes com sintomas graves e pessoas com risco de morte por influenza. Casos suspeitos, com sintomas leves, devem receber medicamento e ficar em isolamento domiciliar por uma semana. A definição de caso suspeito muda: febre acima de 37,5°C (antes era 38°C), tosse ou dor de garganta (o último sintoma não entrava na classificação anterior), acompanhadas ou não de dor de cabeça, nos músculos e articulações e dificuldades respiratórias. O paciente deve ter estado, nos últimos dez dias, em países com casos da doença ou tido contato com pessoas consideradas casos suspeitos 23 de junho: Ministério recomenda que pessoas com maior risco de complicações adiem viagens para Argentina e Chile 26 de junho: O uso do antiviral oseltamivir é restrito para casos graves e pacientes com risco de complicações. Os casos leves são acompanhados e, se necessário, usam outras medicações, para combater sintomas da doença. O diagnóstico com teste laboratorial é dispensado para casos de pessoas com sintomas de gripe suína que trabalham, estudam ou vivem com paciente que teve a contaminação comprovada Pacientes com risco de complicações: Grávidas; menores de 2 anos; maiores de 60; com doença pulmonar ou cardíaca crônica; insuficiência renal crônica; diabete; hemoglobinopatia; imunossupressão primária ou adquirida

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