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Estética da personalidade

Fugir de padronizações e modismos é tendência, diz a principal referência do visagismo no País, Philip Hallawell

Por Ciça Vallerio
Atualização:

Interior.

"As pessoas se enxergam como objeto, e não como um indivíduo com características que devem ser respeitadas"

 

 

 

 

 

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T udo começou quando o artista plástico Philip Hallawell recebeu a incumbência de desenvolver uma apostila sobre visagismo para o Centro de Tecnologia em Beleza do Senac São Paulo. Após anos apresentando o programa da TV Cultura À Mão Livre, no qual ensinava desenhos, e com uma trajetória profissional respeitada no universo da linguagem visual, era a pessoa certa para desvendar o mundo da beleza personalizada.

 

 

Após anos de pesquisa, a apostila virou seu primeiro livro sobre o tema, Visagismo: Harmonia e Estética, lançado pela Editora Senac em 2003. No fim do ano passado, lançou pela mesma editora Visagismo Integrado - Identidade, Estilo e Beleza.

 

 

Esse novo caminho da beleza foi o assunto principal de uma conversa com Philip.

 

 

 

A principal pergunta feita por um visagista ao cliente é: o que você deseja expressar pela sua imagem? Qual é a reação das pessoas?

 

Geralmente ficam mudas. É realmente difícil responder, pois as pessoas não pensam dessa forma. O comum é entrarem num salão de beleza e pedirem para ficar iguais a uma famosa, ou mais sexies, mais jovens. As pessoas se enxergam como objeto, e não como um indivíduo com características que devem ser respeitadas. Dessa forma, encaixam-se em padrões delimitados, tornando-se uma coisa - o empresário, a executiva, a professora, etc. - em vez do ser humano que são.

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Seguir padrões e modismos está fora desse conceito?

 

Esse é o tipo de visão que não cabe no visagismo. A proposta é explicar para a pessoa o que seu rosto revela da sua personalidade, descobrir o que ela pretende expressar por meio da sua imagem e criar uma solução visual adequada àquela intenção. O método não é a arte de ler a personalidade. Saber avaliar os traços no rosto de alguém é apenas um dos passos para criar uma imagem personalizada ou customizada. Quando fazemos esse trabalho de forma adequada, o resultado é tão surpreendente que muito do que é positivo na personalidade aflora.

 

 

 

Como é feito esse trabalho?

 

Em primeiro lugar, identifica-se o temperamento da pessoa. Saber o campo de atuação e tipo de trabalho dela é também importante, embora não o principal. É uma forma de avaliar se ela está usando suas características bem ou mal no seu cotidiano. Um visagista é capaz de atenuar ou acentuar algo que seja necessário em um certo momento ou fase de vida.

 

 

 

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Qual é a relação entre aparência e qualidades pessoais?

 

O visagismo não está empenhado em transmitir uma imagem apenas baseada na aparência. Quando perguntam o que a pessoa quer expressar, os profissionais que têm essa formação estão se referindo às qualidades, que devem ser autênticas e corresponder à personalidade do cliente, porque não adianta querer ser alguém que não é. Não dá para um introvertido querer expressar extroversão se seus gestos, atitudes e comportamentos não condizem com essa característica. O grande diferencial do visagismo é propiciar um momento de encontro e revelar o melhor da pessoa.

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E quando se quer mudar radicalmente a aparência?

 

Claro que há momentos e ocasiões em que se deseja brincar com a imagem, criando uma espécie de personagem temporário. Mas é fundamental saber do efeito poderoso que a imagem tem sobre a emoção e o lado psicológico, provocando alterações no comportamento - para o bem ou para o mal.

 

 

 

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Como mudanças no rosto podem influenciar atitudes?

 

Isso acontece porque os símbolos arquetípicos - expressão usada pelo psicanalista suíço Carl G. Jung, ao descobrir que certos símbolos mantinham seu significado em todas as culturas e em tempos diferentes - agem subliminarmente no inconsciente das pessoas e provocam sensações e reações emocionais, não racionais. Os símbolos arquetípicos estão embutidos na estrutura da imagem e são reconhecidos por uma parte do cérebro chamada tálamo, que provoca uma reação emocional antes que a imagem seja interpretada racionalmente pelo córtex, parte cerebral responsável por funções mentais complexas. Há pesquisas que consideram os símbolos arquétipos como gatilhos naturais de estímulos. Podem ser, além dos símbolos visuais, sons, odores, situações ou lugares, que ativam emoções básicas como surpresa, felicidade, raiva, medo, desgosto, tristeza, ansiedade e confiança.

 

 

 

A cirurgia plástica poderia causar conflitos de personalidade?

 

Essa especialização médica deveria atuar com mais cuidado. Ao contrário do corte de cabelo, esse é o tipo de mudança que dificilmente tem volta. Muitos cirurgiões acham que o visagismo é contra a plástica, mas não é isso. Em vários casos, o visagismo indica uma bioplastia para harmonizar os traços da pessoa. O problema dessa área é se restringir apenas à estética e ficar em cima de padrões. Acaba desconsiderando as características da pessoa e fazendo mudanças que podem gerar conflitos de personalidade. Não é à toa que um médico me contou que o índice de insatisfação com o resultado da cirurgia plástica é de 80%. Não me surpreendeu também quando soube que esse índice chega a 70% nos salões de beleza. Não sou contra uma mulher que coloca silicone nos seios por achá-los pequenos, não se sentindo feminina e desejando recuperar a autoestima. O problema é implantar próteses enormes, que a deixam sexualizada de maneira acentuada, vulgarizando a imagem. A sexualização feminina está muito exagerada, porque hoje elas se espelham nas mulheres de destaque na mídia, que são aquelas que apostam basicamente na sensualidade, sem se preocuparem em mostrar o conteúdo.

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A tendência agora é se diferenciar de que forma?

Ninguém quer ser mais um. E copiar padrões e moda não preenche mais essa necessidade. Mas quando uma pessoa consegue mostrar que é única, não pelo que tem, mas pelo que é, valorizando suas qualidades e seu conteúdo por meio de uma estética harmoniosa (não imposta), ela se torna um luxo.

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