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Especialistas dizem que resultado ruim era esperado

Dirigente de associação aponta falta de preparo de docentes e didática

Por Simone Iwasso e Maria Rehder
Atualização:

O desempenho dos estudantes brasileiros na prova de ciências do Pisa foi recebido de maneiras opostas por especialistas de universidades e professores que trabalham em sala de aula. Enquanto a baixa colocação foi uma surpresa para a professora de biologia da Escola Estadual Jair Xavier de Toledo, na Brasilândia (zona norte de São Paulo), especialistas reunidos a partir de ontem no congresso da Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciência (Abrapec) afirmaram que o resultado era esperado, mostrando apenas o tamanho do desafio que o País tem de enfrentar. "Meus alunos acharam a prova fácil", lembra Neusa Pereira, que acompanhou a aplicação do exame em sua na escola no dia 8 de agosto do ano passado. "Temos laboratórios de ciências, fazemos pesquisas de campo, passeios. No ano passado, nossos alunos plantaram árvores na escola e desde então acompanham o crescimento das plantas nas aulas. Acho que isso contribuiu para que eles achassem fácil", explica. Para a vice-presidente da Abrapec, Marta Marandino, professora da Universidade de São Paulo (USP), a qualificação do professor de ciências no Brasil, aliada à falta de estrutura das escolas, é um dos principais problemas. "É uma questão complexa, são vários fatores envolvidos. desde a falta de preparo do professor até a questão dos métodos, da didática usada em sala de aula", avalia. "Estamos aqui reunidos o dia todo discutindo essas questões e buscando propostas para melhorarmos uma situação que está bastante ruim", complementa. Por exemplo, na cidade de São Paulo, 72% das 463 escolas da rede municipal não têm laboratório de ciências. Na rede estadual o número fica em 71% de 5,3 mil unidades. Além disso, de acordo com dados do Ministério da Educação (MEC), apesar de existirem professores suficientes para toda a rede pública do País, falta docentes formados em Química, Física e Biologia. Com isso, pessoas graduadas em outras áreas assumem essas disciplinas. "Não temos pessoal preparado para ensinar, falta professor especializado, falta material, laboratório. Já vi em cidades no Norte e Nordeste alunos que saíram do ensino médio, receberam o certificado e nunca tiveram uma aula de ciências", afirma Marco Antonio Raupp, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). "O problema é que o ensino de ciência é fundamental até para a capacidade do sistema científico se manter e se reproduzir no País. Precisamos que o ensino de massa, geral, prepare e desperte o interesse do aluno", diz. Ex-presidente do Inep (entre 1995 e 2002) e responsável na época pelo ingresso do Brasil no Pisa, a atual secretária de Educação do Estado de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, afirma que o resultado não traz surpresas. "O ensino é insuficiente, as escolas não estão preparadas, falta material didático e pedagógico, além de apoio ao professor para trabalhar ciências", diz. "Em resumo, a escola brasileira não está preparada para o aluno brasileiro, principalmente depois do processo de universalização do ensino fundamental e expansão do médio", analisa Luís Carlos Meneses, do Instituto de Física da USP.

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