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Escola que está na média nacional vive da tradição

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Por Redação
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Para encontrar o secretário de Educação da pequena Boa Vista, no agreste paraibano, basta ir à Escola Municipal Francisca Leite Vitorina, mais conhecida como Paulo VI, seu antigo nome. Francisco de Almeida Leite, ex-aluno e ex-professor do grupo escolar, despacha dali. Fica mais fácil acompanhar a rotina de coordenadores, professores e alunos. Não que dê trabalho, é mais por prazer: "O ensino toda a vida foi bom, desde quando estudei no primário", alegra-se em dizer. Mérito da ex-escola cenecista (da Campanha Nacional da Escola de Comunidade), que neste ano foi comprada pela prefeitura e virou unidade municipal. O prédio custará 24 prestações de R$ 9.583. A cidade entendeu que era melhor manter a educação do que pagar as bolsas de estudos à entidade filantrópica. Antes, atendia só os alunos da zona urbana. Agora, como pública, recebe também os da zona rural e de outras localidades. São 960. "Tem famílias que foram para São Paulo e Rio e agora estão voltando. Vem estudante de 7ª série que não sabe nem escrever o nome, quase analfabeto", afirma o secretário. Hoje, a Paulo VI está na média nacional do Ideb. Os professores, que ganham R$ 700 por 20 horas semanais, discutem com freqüência o que fazem. Isso os têm aproximado mais uns dos outros. A Paulo VI tem luxos restritos a escolas particulares: dentista, assistente social, nutricionista e psicólogo. A prefeitura dá uniforme com tênis, agasalho, bolsa e material escolar para todos. Na educação infantil, a sala de aula tem banheiros com vasos sanitários para os pequeninos. A Constituição manda os municípios investirem 25% em educação. Boa Vista aplica 28%. DEMOCRACIA PEDAGÓGICA A cidade vive do minério bentonita - terceira maior jazida do País. Mas a mineração se restringe aos pais. Os filhos têm de estudar. Se o filho deixa a escola, o Conselho Tutelar é acionado. No grupo Santino Luiz de Oliveira, o prédio estava caindo aos pedaços e o atraso escolar era de todos. "Meus filhos Dejair e Diego não puderam estudar. Ficavam em casa porque não havia transporte", lembra a merendeira Rejane Araújo. Hoje, ela vê as crianças tendo aulas com computadores conectados à internet. Arthur Borborema Porto, de 10 anos, é aluno da 4º ano da Paulo VI e foi eleito em agosto presidente do turno da manhã. Foi uma eleição simulada, com direito a campanha, palanque e panfletagem. Ganhou de 119 votos a 27 do segundo colocado. A brincadeira despertou o interesse dos estudantes. Não é sempre que um coleguinha como Arthur defende acabar com a papa (mingau) e o biscoito com rapadura da merenda, exigir aula de educação física, torneio de futsal e um recreio de meia hora, em vez dos atuais dez minutos. Ele e os outros presidentes das 14 escolas rurais reúnem-se para decidir quais propostas vão ser levadas a sério. "A escola é boa. Antes estudava no grupo do Estado e não tinha muita aula. Aqui tem, e o sol não bate no nosso rosto", diz o presidente Arthur.

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