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Epidemia da dengue atinge agora cidades pequenas e de clima frio

Segundo levantamento do Ministério da Saúde, 43% dos casos ocorrem em municípios com até 100 mil habitantes

Por Ligia Formenti
Atualização:

A epidemia de dengue registrada neste ano no Brasil revela duas novas características que têm preocupado autoridades de saúde. O maior número de casos - 43% do total - está concentrado em cidades com menos de 100 mil habitantes, o que dificulta o combate à doença. Além disso, focos do mosquito Aedes aegypti, que se reproduz em locais quentes e com água parada, têm sido encontrados também em regiões frias. É o caso de Mendes. Localizada na região serrana do Rio, a cidade, que nunca apresentou histórico da doença e contabilizou neste ano incidência assustadora: 6.953 casos por 100 mil habitantes entre janeiro e setembro. Para o ministério, cidades que reúnem mais de 300 casos por 100 mil já são classificadas como de alta incidência da doença. O alastramento dos focos da doença preocupa o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Ao Estado, ele explicou que a concentração de casos de dengue em pequenas cidades dificulta o combate à epidemia. Em primeiro lugar, porque parte dos municípios atingidos tem maior dificuldade para lidar com saneamento ambiental. Muitos têm abastecimento precário, o que leva a população a armazenar água - fator que, por sua vez, acaba aumentando o risco de criadouros do inseto transmissor da doença, o Aedes aegypti. "Podemos pensar também que a informação adequada sobre os cuidados não chegue aos locais como desejamos" afirmou o ministro. Para ele, diante desses números, é preciso alterar a estratégia de combate à doença e dispensar maior atenção às pequenas cidades. ADAPTAÇÃO A mudança do perfil da epidemia deve-se a dois fatores. Com o passar do tempo, o inseto transmissor da doença adaptou-se a climas mais frios, como Mendes. "A doença nos pegou desprevenidos", afirmou o prefeito Rogério Riente (DEM). "Não tínhamos tradição de combate à doença, não havia necessidade. Havia uma falsa sensação de proteção", completou. Agora, admitindo a falha, Riente trabalha para que, neste verão, o fenômeno não se repita na cidade que se orgulha de, no passado, ter sido eleita a 4º de melhor clima do mundo. Além de Mendes, outras cidades mais frias começaram a apresentar casos confirmados da infecção. "Daí a importância de todos municípios tomarem as providências", afirmou o secretário-adjunto de Vigilância em Saúde, Fabiano Pimenta. A Região Sul, antes considerada livre da dengue, também agora exibe incidência média por causa sobretudo do aumento de casos no Paraná: 44.916 no período. "A Região Sul foi a que teve maior aumento do número de casos, quando comparado com 2006", diz Pimenta. Um aumento de 828%. CAPILARIDADE O secretário-adjunto explica por que a epidemia agora atinge as cidades de menor porte. Ele conta que todos os tipos de vírus de dengue hoje no País chegaram por cidades de grande porte, de clima quente, como o Rio. Dos quatro tipos existentes do vírus, três já circulam no Brasil. "Eles provocam grandes epidemias nestes locais, depois partem para cidades de menor porte", diz Pimenta. Especialistas garantem que essa rota poderia ter sido interrompida, caso as cidades não tivessem baixado a guarda. Mas não foi o que ocorreu. Muitas, valendo-se da redução do número de casos depois de 2002, acabaram reduzindo a vigilância. Quanto mais segmentada é a epidemia, no entanto, mais detalhadas devem ser as ações. "Chegar a todos os municípios é o grande desafio. Não basta distribuir folhetos, é preciso capacitar os agentes, os gestores e adquirir maior capilaridade." Estima-se que cerca de 50 cidades do País não gastam, há mais de seis meses, as verbas destinadas para combate à dengue.

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