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Encontro com novos padrões

Por Agencia Estado
Atualização:

Aos 41 anos, a ex-apresentadora do ?Jornal da Globo? comemora seu novo estilo de vida. Dona de um programa semanal no SBT, ela garante que não tem medo de ser esquecida pelo público e diz que sua prioridade é a família e os amigos. Como alguém larga a bancada de um dos principais jornais da principal emissora do País só para poder dormir e acordar ao lado do marido? Em conversa com a reportagem, nos bancos do Mosteiro da Luz, Ana Paula Padrão falou sobre o seu novo trabalho e sobre os milagres que a nova rotina tem operado em sua vida. Com saudade da hard news? Achei que iria ter, mas os benefícios da minha atual rotina são tão maiores que em nenhuma destas crises tive saudade. Continuo sendo jornalista e ligada ao factual, mas tenho mais tempo. Tinha alguma ilusão em relação ao SBT e se frustrou? Não. A minha relação com o Silvio Santos é muito boa. Quando apresentei a ele o SBT Realidade a única pergunta que ele fez foi: ?Você realmente quer deixar de aparecer todo dia e aparecer uma vez por semana?? Acho que todo lugar em que você trabalha tem as suas esquisitices. Não senti esse negócio de mudança da grade. O horário muda mesmo, o Jornal da Globo entrava ao ar às 23h15 um dia e à 1h no outro. Trabalho é tudo igual. Exemplo de mulher moderna, você optou pela vida particular. O público reagiu? Você não imagina a quantidade de mulheres que disseram: ?Isso mesmo. É um saco este negócio de só ter de trabalhar?. Você acaba abrindo mão de tudo. Sou da geração dos anos 80, quando para entrar no mercado de trabalho você tinha de virar um homenzinho, era difícil ser respeitada se você não tivesse uma cara muito feia. Dizer ?o marido está doente?, ?estou com cólica?, chorar no trabalho, tudo isso era im-pen-sá-vel. E se moldou a este modelo? Claro, usava ombreiras enormes! (risos) Minha geração cresceu ouvindo da mãe: ?Não dependa de homem?. Era um mantra. Fiz isso, mas quando você chega em determinada idade passa a pensar: ?Vou olhar para trás e vou ter construído o quê??. Isto bateu quando me casei, aos 37 (ela tem 41). Pensei: ?Tenho uma carreira legal, mas o que terei aos 60??. Sei que não vão se lembrar de mim. Você é lembrada se está permanentemente na mídia. E aí? Terei de me expor diariamente até meus 60 anos? E começar a puxar a carinha? Não quero. E o que você quer? Quero viver um amor permanente, cultivar meus amigos... É triste você ver um amigo passar por uma situação importante e não estar presente. Passou, você não viu, não cumprimentou, não deu um abraço. Comecei a pensar se valia a pena. Como jornalista, acha satisfatório o que vai ao ar pelo SBT? Nunca vi. E não vi para nunca ter de responder a esta pergunta porque ela não me cabe. Não seria elegante. Uma vez disse que era uma pessoa angustiada. Sente-se hoje uma pessoa mais leve? As pessoas me dizem: ?Nossa, como está mais bonita, mais soltinha?. É engraçado, só consigo perceber se estou feliz ou triste quando olho o passado. E quando olho para a época do Jornal da Globo, penso: ?Como estava virando uma pessoa carrancudinha?. Você começa a abrir uma concessão aqui, outra ali... E eu não via meu marido. E quem vai envelhecer comigo: esta bancada ou este homem? Muita gente pode achar que sou uma derrotada por ter deixado aquela bancada porque todo mundo quer ter os seus 15 minutos de fama e não abre mão disso. Eu abri. Sofreria em viver no anonimato? Hoje, as irmãs te chamaram de Eliana, de Ana Maria... (risos) Elas vivem na clausura. Acho que sou muito mais conhecida do que gostaria. Muita gente me chama de Ana Maria e isso não é o importante, é efêmero. O assédio não infla o ego? Um monte de gente me chama de Ana Paula Padrão, mas você não faz para os outros, faz porque gosta. O meu caminho natural, montando uma produtora, está cada vez mais atrás das câmeras. Daqui a 20 anos, não se lembrarão de mim porque não vou pôr botox, nem silicone, nem levantar a bundinha. Olha, não quero me esticar toda. Sou supervaidosa, uso creme para a área dos olhos, mas quero ter a idade que tenho e parecer ter essa idade. Não quero me casar com um menino de 18 quando tiver 60 para me sentir jovem. Demorou quanto tempo para esta conclusão? (risos) Ah, 10 anos de análise! Não é fácil, mexe com o ego. Mas fico pensando nos 60. Tenho que fazer alguma coisa para chegar lá bem. O que vai contar não é a minha carinha, mas minha cabecinha. O trabalho é a coisa mais importante da sua vida? Já foi e por muitos anos. Hoje o trabalho é 40% da minha vida, mas, se tiver que parar, sobrevivo. Vou fazer crochê.

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