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Eméritos querem voz no episcopado

Bispos aposentados compulsoriamente aos 75 esperam que papa mude regras e permita participação ativa

Por José Maria Mayrink e INDAIATUBA
Atualização:

Os bispos eméritos ou aposentados - aqueles que renunciaram às suas funções ao completar 75 anos de idade - querem ter voz e voto nas reuniões e comissões do episcopado, nas quais são admitidos como convidados. D. Angélico Sândalo Bernardino, que deixou a diocese de Blumenau no mês passado, vai levantar a questão na Assembleia-Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), no convento de Itaici, município de Indaiatuba (SP). Dos 447 bispos brasileiros, 147 são aposentados. Embora continuem membros do Colégio Episcopal, com direito a participar de sínodos e concílios ecumênicos, os eméritos - mais de 1.200 entre os 4.900 bispos no mundo todo - deixam de pertencer às conferências nacionais. É determinação do Vaticano, mas eles esperam que o papa mude as regras. Documentos da Cúria Romana se preocupam com o sustento digno dos bispos idosos e aconselham que sejam ouvidos sobre a condução das dioceses. No Brasil, quando os bispos aposentados têm força para continuar trabalhando, a experiência acumulada no governo diocesano é uma boa contribuição. Um exemplo é d. José Maria Pires, ex-arcebispo da Paraíba, que aos 90 anos mora em Belo Horizonte e viaja mais de 200 km nos fins de semana para trabalhar na paróquia de Córregos, onde nasceu. Disposição não lhe falta: em 2007, ele fez a pé o Caminho de Santiago, na Espanha, experiência que promete repetir em 2019, para comemorar o centenário. Ao renunciar, o bispo tem o direito de continuar na diocese, que deve garantir sua manutenção, mas pode escolher outro domicílio. D. Tomás Balduíno passou a morar num convento dos dominicanos de Goiânia, após deixar a diocese de Goiás. Aos 86 anos, ele se dedica à pastoral em paróquias de periferia e dá assessoria à Comissão Pastoral da Terra, que presidiu. D. Angélico trocou Blumenau pelo Jardim Primavera, zona norte de São Paulo, onde atuou como auxiliar dos cardeais d. Paulo Evaristo Arns e d. Cláudio Hummes. "Moro numa casa de família e trabalho na Igreja de Zinco, que tem esse nome por causa do telhado." "Quando o papa aceitar minha renúncia e nomear o sucessor, pretendo morar no Ipiranga, onde trabalhei como auxiliar durante 25 anos", anuncia d. Antonio Celso de Queirós, que renunciou à diocese de Catanduva ao completar 75 anos em novembro do ano passado. Ele não pretende assumir compromissos, mas quer ajudar. O cardeal d. Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador e primaz do Brasil, também faz planos. Encaminhou a renúncia em outubro, ao completar 75 anos, e aguarda o sucessor. "Vou dividir meu tempo entre a Bahia, São Paulo, Londrina e Toledo, nas dioceses em que trabalhei, e pretendo ainda fazer uma experiência missionária na África. Vou passar uma temporada em Guiné-Bissau." Dos oito cardeais brasileiros, seis são bispos eméritos: d. Eugenio Sales e d. Eusébio Scheid (Rio), d. Paulo Evaristo Arns e d. Cláudio Hummes (São Paulo), d. Serafim Fernandes Araújo (Belo Horizonte) e d. José Freire Falcão (Brasília). D. Cláudio renunciou para assumir a Congregação para o Clero, no Vaticano. Em tratamento de saúde, d. Paulo, de 77 anos, está morando numa casa de freiras, em Taboão da Serra.

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