Em Goiás, uma escola pública que deu certo

Colégio da zona rural venceu prêmio nacional por forma nova de [br]administrar, que inclui ?representação por setores?

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Por Maria Rehder
Atualização:

A Escola Aprendizado Marista Padre Lancísio, na zona rural de Silvânia (GO), cidade de 20 mil habitantes, foi escolhida entre 1.551 escolas para ganhar o prêmio Referência em Gestão Escolar 2007, do Conselho de Secretários de Educação (Consed). Por trás do reconhecimento está o educador Alexandre Lucena Lobo, que conta como transformou em menos de dois anos um colégio prestes a fechar numa escola pública modelo. Quando o sr. assumiu a escola? Em 2005, tomei a decisão de deixar a direção de uma escola chique em João Pessoa e meu cargo de professor de psicologia educacional na Universidade Estadual da Paraíba para integrar uma missão dos irmãos maristas (grupo religioso) para gerir a Escola Padre Lancísio. Como estava a escola? Em crise. A fazenda estava prestes a ser vendida. A cidade antes tinha duas ótimas escolas, mas para a elite. Foi por isso que, há 45 anos, os padres fundaram uma para crianças em risco. Não é gerida pelo governo? É 100% gratuita, com gerenciamento da Secretaria de Educação de Goiás e dos maristas. A prefeitura fica com a mão-de-obra. Somos 102 funcionários, temos 396 alunos da educação infantil ao 5º ano do ensino fundamental e oferecemos educação integral para jovens em situação de risco por meio de parceria com o conselho tutelar. Na região, há muito trabalho infantil. Como o sr. tirou a escola da crise? Reuni o coletivo, e a primeira decisão foi transformar todos os espaços da fazenda em salas de aulas educativas. Foi transformada em escola ambiental que oferece seus espaços para outras escolas de sete municípios. Basta reunir o coletivo? O segredo é muito planejamento, com reuniões e comprometimento. Em 2005, passamos a adotar um esquema de representação por setores. Semanalmente, os representantes de áreas como limpeza, pedagogia e ambiente se reúnem para avaliar o que está bom e o que pode melhorar. A participação dos pais merece destaque. Se não fosse a ajuda de empresas e entidades, não conseguiríamos atender os 45 alunos em período integral. Os professores faltam? Não faltam, pois são motivados. O salário vai de R$ 300 a R$ 800. As salas têm até 30 alunos. Temos uma pedagogia diferenciada, os alunos não são agrupados por série, mas de acordo com suas dificuldades. Vale a pena? Ver alunos que só sonhavam em colher tomate, ser bóia-fria ou catar lixo agora com outros objetivos é o que faz valer a pena.

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