Em duas gerações, expectativa de vida aumenta mais para mulheres

Em média, elas vivem hoje 76,1 anos e eles, 68,5; a vantagem, que em 1960 era de 3 anos, passou a ser de 7,6

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Por Wilson Tosta , Clarissa Thomé e Jacqueline Farid
Atualização:

Uma explosão de mortes violentas concentrada sobretudo em homicídios de homens jovens nos centros urbanos fez a expectativa de vida ao nascer das brasileiras crescer acima da do sexo masculino, mais que dobrando a distância entre os sexos numa contagem de 1960 a 2006, aponta o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A Tábua de Mortalidade 2006, divulgada ontem, mostra que, menos atingidas pela violência, as mulheres viram sua esperança de sobrevivência ir de 56,1 para 76,1 anos no período - mais 35,7%, ou seja, 20 anos e 34 dias a mais. O sexo masculino avançou menos, de 53,1 para 68,5 anos: 15 anos, 10 meses e 14 dias, 28,9%. A vantagem feminina cresceu de 3 para 7,6 anos. O número nacional foi de 54,6 (54 anos, 7 meses e 9 dias) para 72,3 anos (72 anos, 3 meses e 12 dias), mais 17 anos, 8 meses e 1 dia. "Tomamos 1960 como base para ter uma idéia do que aconteceu em duas gerações", explicou Juarez de Castro Oliveira, gerente de Estudos e Análises de Dinâmica Demográfica da instituição. Ele apontou como "condicionantes" para o declínio geral da mortalidade, apesar do crescimento das mortes violentas, a relativa melhoria dos serviços de saúde, campanhas de vacinação, aumento de atendimento pré-natal, acompanhamento clínico do recém-nascido, incentivo ao aleitamento materno, maior escolaridade, infra-estrutura de saneamento, mais percepção das enfermidades e prevenção de doenças e avanços da medicina. Em um período menor, de 1980 a 2005, o avanço na violência fez crescer a sobremortalidade masculina (chance matemática de um homem morrer, comparada com a de uma mulher), focada sobretudo nos jovens. Na faixa de 20 a 24 anos, os maiores saltos ocorreram no Amapá (de 1,6 para 6,1 vezes) e em São Paulo, de 2,4 para 5,9 vezes. O Rio tem o terceiro pior índice - um jovem fluminense tem 5 vezes mais possibilidade de morrer do que uma moça. Em todo o País, o índice foi de 2 vezes, em 1980, para 4 em 2006. Nas mortes por causas externas, mudaram as posições: em 1960, os acidentes de trânsito causavam 28,4% das mortes (segundo lugar); os homicídios, 19,8%, vinham em terceiro. Na dianteira, estavam "outras causas", 46,2%. Em 2005, os acidentes automobilísticos, ainda em segundo, matavam a mesma proporção de pessoas que em 1960 (28,4%) -, mas os homicídios já lideravam, com 37,1% dos óbitos, quase o dobro do número anterior. A distribuição dessa estatística entre os sexos também mostra fortes desigualdades, com nítida vantagem para as mulheres. Embora tenha havido crescimento até maior na proporção de homicídios sobre o número de mortes femininas com causas externas - de 9,4% para 18,3% no período -, entre os homens a proporção foi para 40,8% em 2005, ante 22,4% em 1960. Os acidentes de trânsito, que no período se mantiveram estáveis como causa de mortes masculinas (de 27,6% para 27,7%), ficaram em segundo. Um dado curioso é que a proporção de suicídios ficou quase estável entre as mulheres (de 8,3% para 8,7%), mas subiu entre homens: de 4,9% para 6,4%. Ainda na decomposição entre os sexos, fica mais nítida a forma como a violência afeta mais homens que mulheres no Brasil, onde, em 2005, 80% dos óbitos violentos foram no sexo masculino. Nas estatísticas de 1980, os homicídios causavam 30,7% das mortes de homens por causas externas no Brasil, na faixa de 20 a 29 anos. Vinte e seis anos depois, essa proporção subira para 55,1%. Entre as mulheres, o crescimento foi de 17,1% para 33%. O estudo mostra que a desigualdade se reproduz na expectativa de vida ao nascer dos Estados. Todas as unidades da Federação no Sul, Sudeste e Centro-Oeste ficaram acima da média nacional nessa contagem; todas do Nordeste e Norte, abaixo, numa escala que vai do Distrito Federal (75,11 anos) a Alagoas (66,36). Os dois extremos apontados pelos técnicos, em 2006, eram as mulheres do Distrito Federal, cuja expectativa de vida no ano passado era 78,96 anos, e os homens de Alagoas, com o menor patamar do País: 62,45. A pesquisa usou dados das declarações de óbito do Ministério da Saúde e de cartórios. Um dado que influenciou positivamente o aumento da expectativa de vida dos brasileiros de 1960 a 2006 foi a queda de 64% na mortalidade infantil. Era de 69,1 por mil nascidos vivos no início do período e caiu para 24,9 por mil, no ano passado. Rio Grande do Sul era, em 2006, o Estado com menor índice, 13,9 por mil, seguido de São Paulo (16), Santa Catarina (16,6) e Distrito Federal (17,3). O Rio estava em 10º lugar, atrás dessas unidades da Federação e também de Mato Grosso do Sul, Paraná, Espírito Santo, Roraima e Goiás. O Estado que obteve maior redução (72,4%) foi o Ceará (de 111,5 para 30,8 por mil). Alagoas era o Estado em pior colocação em 2006, com 51,9 por mil.

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