Elite da rede pública vai melhor no Enem do que alunos da particular

Estudo feito pelo Ministério da Educação mostra que a diferença passa dos nove pontos na prova de redação

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Por Renata Cafardo
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Os melhores alunos da escola pública tiveram nota maior que os estudantes da rede particular no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Estudo feito pelo Ministério da Educação (MEC), e obtido com exclusividade pelo Estado, mostra que a diferença na média passa dos nove pontos na prova de redação. Na prova objetiva, o grupo da rede pública teve nota 68,77, enquanto o da particular ficou com 68,72. O estudo considerou os 149.430 alunos de escola privada que concluíram o ensino médio em 2006 e participaram do exame. As notas desse grupo foram comparadas às dos 149.430 melhores formandos da rede pública. De acordo com o ministro da Educação, Fernando Haddad, a intenção era a de analisar dois grupos com o mesmo número de alunos, já que o total de participantes da rede pública é muito superior ao da particular. "É equivocado dizer que a escola particular é uma elite com relação à pública porque também dentro da escola pública há uma elite", afirmou o ministro. Os números mostram que a maioria desses alunos está nas regiões Sul e Sudeste e a maior parte deles, cerca de 41 mil, no Estado de São Paulo. Mas o Rio Grande do Sul tem a maior proporção de estudantes (32,7%) entre os que participaram da prova que estão entre os melhores da rede pública. "É preciso lembrar que há muitas curvas de qualidade na escola privada também", disse a educadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Maria Beatriz Luce. Segundo ela, os gaúchos têm ainda a vantagem de morarem em um Estado com histórico de investimento na educação e de melhor titulação de seus professores. Os estudantes do Rio Grande do Sul também tiveram média superior à brasileira na avaliação internacional Pisa, cujos resultados foram divulgados no início do mês, e foram ainda um dos melhores do País. ESFORÇO INDIVIDUAL O estudo realizado pelo MEC chama a atenção porque, tradicionalmente, estudantes de escolas públicas se saem pior em exames como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), Pisa e o próprio Enem. Se forem consideradas as notas médias gerais dos 602.232 concluintes do ensino médio público que participaram da prova neste ano, o desempenho foi mais de 20 pontos abaixo do registrado entre alunos da rede particular. "O resultado agora mostra o esforço pessoal do aluno", diz a educadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Maria Márcia Sigrist, sobre o estudo do MEC. INICIATIVA Paulo Thiago Ministro dos Santos, de 17 anos, acertou 93,65% da prova do Enem. "É só pensar", diz ele. Filho de uma dona de casa e um metalúrgico, Santos estudou a vida toda na rede pública e fez o ensino médio numa escola estadual em Pinheiros, zona oeste. "Não acho a escola tão boa, aprendo muito lendo notícias na internet", conta ele. Para a estudante Silvia de Siqueira Souza, de 17 anos, "há alunos bons e ruins na escola pública e na particular". Ela teve a mesma nota que Santos no Enem e espera que isso ajude a conquistar uma vaga no Programa Universidade para Todos (ProUni), que dá bolsas a alunos de escola públicas em instituições privadas em troca de benefícios fiscais do governo. Quanto mais alta a média do Enem mais chances o aluno tem de ganhar a bolsa. Silvia espera conseguir estudar Administração de Empresas na Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) por meio do programa. A criação do ProUni foi um estímulo para aumentar o número de estudantes que fazem o Enem. A prova começou a ser aplicada em 1998 de forma voluntária para alunos que terminaram o ensino médio.

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