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Eles comem muito. E mal

Problema agora tem crescido mais entre a população carente

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Por Redação
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Nem sempre os pais podem presentear os filhos com uma bicicleta, o brinquedo da moda ou até com a atenção que desejam. Mas não é preciso muito esforço para agradar os pequenos com um prato de batatas fritas. Essa compensação, no entanto, pode resultar em perigosos quilos a mais para a petizada. Apesar de ainda ser mais comum entre crianças de classe média e alta, a obesidade infantil cresce em velocidade acelerada entre as de baixa renda. ´O problema da obesidade cresce menos entre a população mais privilegiada porque ela tem maior acesso a informações sobre os prejuízos que a doença acarreta´, constatou a pesquisa Obesidade infantil, publicada em 2002 na revista médica Lancet. Especialistas acreditam que entre os fatores que favorecem o aumento da obesidade infantil entre classe de baixas rendas está a ansiedade dos pais. ´Muitos têm pena dos filhos e, para compensar a falta de alguns bens materiais, empanturram as crianças com comida´, desabafa Vera Lúcia Perino Barbosa, presidente do Instituto Movere, que há quatro anos mantém um programa que recebe crianças e adolescentes carentes de seis a 17 anos gratuitamente. Outros motivos que incentivam o aumento da obesidade em crianças que residem em regiões mais pobres são a falta de orientação alimentar adequada, a atividade física reduzida e o consumo de alimentos muito calóricos, como cereais, óleo e açúcar. Tais dados foram publicados na pesquisa de orçamentos familiares, de 2003, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Alimentos industrializados são mais fáceis de serem adquiridos. E são a companhia ideal para crianças em confinamento. Para evitar a obesidade, o ideal seria agir em sua raiz. Para a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Centro Integrado de Terapia Nutricional (Citen), ´a principal causa do problema são os próprios pais´, embora dificilmente eles tenham consciência disso. Buscar ajuda na adolescência é ainda melhor do que deixar o filho se tornar um adulto gordo. Rômulo Augusto Leme da Silva Roxo, de14 anos, está no caminho certo. O adolescente, que pesa 67 quilos e mede 1,65 m, emagreceu 12kg com dieta e exercícios prescritos pelos profissionais do Instituto Movere. Sua mãe, Benedita Alves da Silva, tem 53 anos e pesa 86 quilos. Ela freqüenta o Instituto porque também precisou entrar no dieta.´Falta muita informação para esses pais e por isso damos aulas para ensinar para a família o que é uma caloria ou a importância do alimento energético´, diz Vera Lúcia, do Movere. A genética tem papel menos importante quando comparada com o estilo de vida dos pais. O exemplo conta muito. ´Se os pais são sedentários, dificilmente vão conseguir que as crianças façam exercício físico´, pondera Ellen. E, se os pais comem mal, provavelmente os filhos também terão hábitos alimentares ruins, desde pequenos. ´A melhor época para se adquirir bons hábitos alimentares é logo após a retirada do leite materno´, ensina a endocrinologista Amanda Epifânio. Nessa fase de vida, a criança tem os primeiros contatos com a papinha de frutas e a papinha salgada. Ela aprende e cultiva o vínculo com o alimento saudável, passando a consumi-lo de maneira prazerosa. ´A partir daí, ela não abandonará o hábito, mesmo quando provar o sabor forte dos alimentos industrializados´, defende Ellen. Vera acredita que o programa da Movere dá certo porque é multidisciplinar - inclui nutricionista, personal trainer e psicólogo. Mãe de João Pedro Santos Borges, de 7 anos e 39 quilos, dez deles perdidos na Movere, Ana Cláudia dos Santos Soares, 39 anos e 80 quilos, comemora que o filho está no peso adequado. Mas confessa: ´Difícil vai ser dar continuidade ao regime lá em casa.´

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