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Educação integral: muito além das salas de aula

Cursos complementares na rede pública de todo o País incluem desde aula de reforço até hip hop, rádio e circo

Por Sergio Pompeu
Atualização:

A educação pública brasileira é pródiga em más notícias. A ponto de as boas passarem quase despercebidas. Uma delas é que o País está conseguindo ampliar o tempo de aprendizado de milhares de crianças. Outra é que está fazendo isso sem recorrer a obras caras, megaescolas como os Cieps concebidos pelo ex-governador do Rio Leonel Brizola ou os CEUs da ex-prefeita paulistana Marta Suplicy. Mais informações sobre projetos e dados de educação Parte desse sucesso se deve à educação integral, que prevê a oferta de cursos complementares aos estudantes. O mix é variado, combina interesses da garotada a intenções pedagógicas. Nele cabem aulas de reforço escolar e oficinas de leitura, mas também cursos de hip hop, rádio ou circo. O importante é garantir à população carente acesso à arte, à cultura e à prática de esportes, normalmente restrito à classe média. "Mas atenção, porque muita gente confunde educação integral com escola de turno integral", alerta Maria Salete da Silva, coordenadora do Programa de Educação do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Vamos, então, às diferenças. A escola de turno integral é aquela na qual o aluno tem jornadas mínimas de sete horas diárias, cumpridas dentro da unidade escolar. Quando há atividades complementares, elas são atreladas ao currículo. A educação integral, além de ter conteúdo mais flexível, ocorre muitas vezes fora da escola, graças a parcerias - fechadas pela direção com o próprio poder público ou com organizações não governamentais (ONGs). "Queremos que a criança tenha a oportunidade de ser educada pela escola, pela família e pela comunidade. Isso não quer dizer que ela vá ter uma rotina de trabalhador, passar o dia inteiro na escola ou passar o dia inteiro ocupada", diz Salete. Dados do Ministério da Educação indicam que hoje mais de 800 mil crianças e adolescentes têm jornadas de aprendizado ampliadas. As escolas de tempo integral respondem por metade desse número e a educação integral pelos outros 50%. Mas há uma diferença gritante na velocidade de expansão das duas modalidades. O MEC espera ampliar este ano para 1,8 milhão o número de estudantes com acesso à educação integral, atingindo 5 mil escolas, por meio do programa Mais Educação, que teve seu orçamento aumentado de R$ 57 milhões para R$ 70 milhões. Já no primeiro ano de funcionamento, em 2008, 1.380 escolas de todo o País aderiram ao Mais Educação. O programa é desenhado para a população mais vulnerável socialmente: atende a escolas de baixo desempenho no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), em cidades com mais de 50 mil habitantes. O dinheiro cai direto na conta da escola, em valores já predefinidos - de R$ 500 a R$ 2.500 mensais, conforme o número de estudantes atendidos. Só pode ser usado em pequenas reformas, na compra de material para os cursos ou com alimentação e transporte de alunos e monitores. "O MEC, com o Mais Educação, está distribuindo recursos para as escolas protagonizarem projetos", diz Maria do Carmo Brandt de Carvalho, coordenadora do Cenpec, centro de estudos e pesquisas educacionais. "Não dá para expandir a educação dentro da escola. Elas estão superlotadas, muitas têm três turnos, o que inviabiliza até a educação formal, quanto mais a complementar." Parceira do Cenpec, a Fundação Itaú Social criou em 1995 o Prêmio Itaú-Unicef, para divulgar experiências de ONGs que trabalham com a rede pública para ampliar a oferta de educação especial. A edição deste ano, que será lançada amanhã em São Paulo, prevê premiações que variam de R$ 10 mil a R$ 150 mil. Terá como tema Tempos e Espaços para Aprender. "Esse é um desafio que trazemos desde a criação do prêmio: o de reconhecer o papel fundamental da escola pública, mas ressaltar a importância de criar outros espaços de aprendizagem", diz a superintendente da fundação, Ana Beatriz Patrício. "Além de entender que esses espaços podem nascer da articulação com organizações sociais." Mas os defensores da escola integral ressaltam que ela não é a panaceia para a baixa qualidade do ensino. "Vender essa ideia é um desserviço!", diz Ana. "Temos desafios imensos a serem enfrentados dentro da sala de aula, de qualificação de professores e diretores, atualização de currículos." "Nossa prioridade é resolver o problema dos três turnos", diz o secretário municipal da Educação de São Paulo, Alexandre Schneider. Na cidade mais rica do País, 45 Centros Educacionais Unificados (CEUs) convivem com 69 escolas que oferecem jornadas de 3 horas a 3h30 de duração. Segundo Schneider, o problema só deve estar sanado no fim de 2010. "O grande desafio é chegar ao turno de 5 horas e garantir educação de qualidade dentro desse turno." O projeto de educação integral de São Paulo prevê o uso de 95 clubes municipais para que os alunos façam atividades esportivas e ainda está em fase inicial. "O CEU é um equipamento importante para a comunidade e as crianças", diz Schneider. "Mas é um modelo que não se sustenta em larga escala."

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