PUBLICIDADE

Economia para menores

Crianças aprendem a lidar com o dinheiro em aulas de educação financeira e empreendedorismo

Por Cristiana Vieira
Atualização:

A última pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomercio), mostrou que 44% das famílias paulistanas estavam endividadas e 14% tinham contas atrasadas, sendo 54% delas por mais de 90 dias. Em 2008, o Banco Central divulgou que havia 80 milhões de brasileiros com dívidas. Para que esse quadro mude nas próximas gerações, escolas começam a incluir temas como educação financeira e empreendedorismo na grade curricular.

 

PUBLICIDADE

Foi o caso do Colégio Jardim França, na zona norte de São Paulo, que aborda o tema em sala desde o ano passado. "Mostramos a relação que os alunos devem ter com o dinheiro, tomando o cuidado, porém, para que não pensem que grana é tudo na vida", explica o diretor Maurício Cruz Sampaio.

 

A disciplina entra no currículo do Ensino Fundamental. Na sexta e sétima séries, os alunos discutem temas como fluxo de caixa, aprendem a utilizar planilhas e começam a lidar com termos da economia, como sistema financeiro, moeda, cheques, cartões, juro, investimentos, ativo e passivo. "Eles gostam mesmo é de ouvir estudos de casos reais", conta o professor Fabio Tesser Baizagli.

 

No programa da oitava série, entram temas como relação com o dinheiro e com o trabalho. E no último ano, aborda-se liderança, excelência profissional, trabalho e empreendedorismo social. "A ideia é desenvolver a liderança naquilo em que cada um tem vocação, habilidade, talento", explica o professor. Para fechar o curso, os alunos montam uma ONG, passando por todas as etapas, da criação até a estruturação da empresa.

 

O aprendizado parece surtir efeito, já que aplicam o aprendizado no cotidiano. Guilherme Vitor Muri de Lima, de 13 anos, gastava sua mesada em dois dias. Agora aprendeu a economizar, para o alívio dos pais e o orgulho da tia, que libera a verba mensal. "Eu e meu irmão estamos juntando dinheiro para comprar um videogame", conta o garoto. Tem até aluno que conseguiu negociar um aumento da mesada com a promessa de depositar toda a grana em uma poupança.

 

 

A autora do livro Você Sabe Lidar com o seu Dinheiro? (Marília Cardoso, Editora Artemeios), explica que essa relação tem muito a ver com o que se aprendeu na infância. Segundo ela, especialistas dizem que quem passa por grandes problemas financeiros pode tentar afastar as lembranças ruins gastando muito ou, pelo contrário, guardando tudo o que ganha para não passar aperto de novo.

 

 

Teoria para poupar

Publicidade

O educador e terapeuta financeiro Reinaldo Domingos criou uma metodologia, batizada de Disop (diagnosticar, sonhar, orçar e poupar), que, segundo ele, são os pilares para a boa saúde financeira. Ele é autor do livro infanto-juvenil O Menino do Dinheiro, da Editora Gente, que conta a história de um garoto que não entendia por que não podia ganhar sorvetes e balas no mesmo dia. "É importante a mudança de hábito", diz. Mas só aprendendo a fazer escolhas para poder poupar é que conseguiu realizar os sonhos.

 

Domingos também capacita professores para dar aula de educação financeira a alunos de 3 (sim, apenas 3 aninhos!) a 17 anos. Um trabalho comportamental. Ele diz que as crianças aprendem a provocar a família com perguntas sobre finanças e até questionam pais e avós sobre suas aposentadorias.

 

Filha de pais divorciados, a jovem Giovanna Lombardi, de 15 anos, mora com a irmã, de 9, e a mãe. Foi ela quem colocou ordem nas contas da família, levando para a casa o que aprende na sala de aula. A mãe, advogada, admite que sempre teve dificuldade para organizar suas próprias finanças e que, na idade da filha, não sabia nem preencher uma folha de cheque. "A Giovanna faz o dinheiro render. Compra o necessário e ainda fica com o troco para ir à matinê", orgulha-se a mãe coruja Ana Cristina Pinheiro de Carvalho Lombardi.

 

Hoje, a adolescente guarda metade da mesada que ganha do avô em um cofre que tem desde criança. O restante gasta. "Meu dinheiro não rendia. Se saísse para comer, pedia tudo o que tinha vontade. Quando saía para a matinê, queria ficar no camarote", lembra. Agora, quando quer comprar algo, economiza. "Meu dinheiro rende e continuo fazendo os mesmos programas."

 

A garota se interessou tanto pelo tema que fez até um curso na Bolsa de Valores de São Paulo. Com o aprendizado, tem certeza de que vai controlar bem seu dinheiro, fazer aplicações e aumentar sua renda. Do jeito que tem de ser. "Mas não se pode só pensar em guardar, senão a vida fica muito chata", alerta.

 

 

 

Você é um pequeno economista?

 

1. Como você faz para guardar dinheiro?

Publicidade

 

a) ( ) Não sobra nada.

b) ( ) Não consigo guardar por muito tempo.

c) ( ) Procuro saber quanto custa algo que quero e junto até chegar ao valor.

 

 

2. Ao ir ao shopping com seus pais ou parentes, como você se comporta?

 

a) ( ) Peço para comprarem tudo o que gosto, sem pensar em quanto custa, nem se já tenho algo parecido.

b) ( ) Não peço para comprarem tudo o que quero, mas sempre volto para casa com algum presente.

c) ( ) Somente vou às compras quando tenho dinheiro e já sabendo o que quero comprar.

Publicidade

 

 

 

3. Com relação aos seus amigos na escola, você:

 

a) ( ) Quer sempre a melhor mochila, o melhor tênis, o celular mais moderno, etc.

b) ( ) Quer ter sempre o que eles têm, independentemente da sua condição financeira.

c) ( ) Contenta-se com o que tem e respeita a situação financeira de cada um.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.