Droga para glaucoma vai virar cosmético

Um dos efeitos colaterais do remédio é fazer crescer os cílios

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Por Natasha Singer
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Primeiro foram "testas congeladas". Agora são "cílios Betty Boop". A Allergan, companhia que transformou um paralisante muscular para espasmos de pálpebras, o Botox, num alisador de rugas, quer realizar nova alquimia cosmética. No fim do mês, pretende introduzir Latisse, a primeira droga controlada aprovada pelas autoridades federais para tornar os cílios mais longos e mais densos. O produto tem a mesma fórmula das gotas oculares para o tratamento de glaucoma chamadas Lumigan, da Allergan. É uma das muitas drogas de uma categoria conhecida como análogos de prostaglandina, cuja finalidade é reduzir pressões perigosas no globo ocular. Mas, como efeito colateral, tende a aumentar o comprimento e a densidade dos cílios. Alguns médicos se dizem preocupados com a possibilidade de consumidores de cosméticos experimentarem efeitos colaterais menos desejáveis da droga para glaucoma, como olhos avermelhados, coceira e mudanças na pigmentação das pálpebras. Analistas financeiros, por sua vez, gostariam de saber quantas pessoas estarão dispostas a gastar US$ 120 (cerca de R$ 280) pela dosagem mensal de Latisse. Outros analistas preveem que, num mundo em que pessoas gastam cerca de US$ 5 bilhões por ano em maquiagem, o Latisse poderá ser a maior sensação da medicina cosmética desde o Botox. As vendas de Botox para uso cosmético atingiram US$ 600 milhões em 2007. "Acho que é um negócio grande", diz Ronny Gal, pesquisador sênior em fármacos especializados da Sanford C. Bernstein, uma empresa de pesquisa de investimentos. "É uma nova ideia num mercado que adora ideias novas. E funciona." David Pyott, presidente da Allergan, prevê que, no longo prazo, as vendas mundiais do Latisse superarão US$ 500 milhões. E sugere que muitas mulheres gastariam, sem piscar, US$ 120 pela dose mensal de 3 mililitros. "Se você pensar nisso em termos de luxo, são US$ 4 por dia." Mas outro analista, Gary Nachman, diretor de fármacos especializados do banco de investimento em empresas de saúde Leerink Swann, previu que o custo do Latisse e o inconveniente da obtenção de receita médica poderiam dissuadir muitas mulheres de testá-lo. As empresas de seguro saúde tipicamente não cobrem esses tratamentos. Nachman diz que o Latisse poderá ter mais valor para a Allergan como uma droga que inicie novos pacientes na medicina cosmética e os leve a experimentar o Botox. E prevê que o Latisse alcançaria vendas de somente US$ 80 milhões em 2012. Jennifer Nobriga, dona de casa e autora do blog www.beautyinreallife.blogspot.com, diz que vai se aferrar à maquiagem em vez de esbanjar na droga para cílio. "Prefiro gastar dinheiro num creme para os olhos."

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