Dores crônicas atingem 28,7% dos paulistanos

Pesquisa da USP revela que as pessoas se conformam com problema que tem tratamento

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Por Emilio Sant'Anna
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Quase um terço dos paulistanos sofre com dores que já se tornaram crônicas. A Faculdade de Saúde Pública da USP entrevistou 2.401 pessoas e concluiu que 28,7% têm o diagnóstico. Entre as principais causas estão as dores na coluna, dor de cabeça, enxaqueca e transtornos psiquiátricos como a ansiedade e a depressão. A dor crônica se caracteriza pela presença constante ou periódica de episódios de dores por um período mínimo de três a seis meses. Alguns pacientes, no entanto, relatam casos que chegam a durar anos. O levantamento da USP, que teve a participação do laboratório Janssen-Cilag, aponta também outra conclusão:as mulheres sofrem mais com o problema do que os homens. Enquanto 20% dos homens afirmam ter dores crônicas, entre as mulheres esse índice chega a 34%. "Os motivos ainda não são claros, mas existem algumas hipóteses como a alteração do perfil hormonal durante o período pré-menstrual", diz a enfermeira Karine Leão Ferreira, do Grupo de Dor do HC. Porém, dizem os médicos, uma coisa é certa: o tratamento precisa passar por diferentes áreas da medicina. No HC, fazem parte do Grupo de Dor fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos, além dos médicos. Também chama a atenção a prevalência de dor crônica entre jovens de 18 a 29 anos: 20%. O índice é considerado alto pelos especialistas. As causas estão associadas principalmente ao estilo de vida. Sedentarismo, obesidade, stress e automedicação formam uma combinação propícia para que cada vez mais jovens tenham dores crônicas. A pesquisa da USP revela um indício do problema. Cerca de 40% dos obesos e 30% das pessoas com sobrepeso ouvidas relataram sofrer com dores constantes. "Hoje, as pessoas estão mais suscetíveis a fatores estressantes e depressores, o que piora ainda mais os casos de dor", alerta Manoel Jacobsen, chefe do Grupo de Dor. Jacobsen afirma que muitos médicos ainda têm dificuldades para diagnosticar corretamente os casos de dores crônicas e que os pacientes devem procurar serviços especializados para obter tratamento. A boa notícia é que, desde que corretamente tratadas e dependendo das causas, a dor crônica pode ser curada. "Toda dor tem tratamento e algumas delas, como a fibromialgia, podem ser completamente revertidas", diz. A enfermeira Maria Meimei Brevidelli, de 46 anos, está quase chegando a esse ponto. "Um dia me inclinei para beijar meu filho e senti uma dor lancinante." Desse dia em diante sofreu durante 1 ano e meio com as dores, até encontrar ajuda no HC. As dores a impediam de trabalhar e causaram outro problema: depressão. Hoje, um ano após começar a se tratar corretamente, consegue não sentir dor em alguns dias. "Passei a ter consciência corporal e, a partir do momento em que consegui controlar a dor, ganhei qualidade de vida", afirma. RAIO X 32,9% dos pacientes entrevistados não utilizaram nenhum medicamento nos 12 meses anteriores à pesquisa 3 a 6 meses é o período mínimo para que a dor seja considerada crônica 20% é a prevalência de dor crônica relatada por pacientes jovens, de 18 a 29 anos

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