Doença pulmonar afeta 7 milhões de brasileiros

Só 12% dos portadores sabem que têm o problema

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Por Simone Iwasso
Atualização:

Apesar de afetar 7 milhões de brasileiros, ser a quinta causa de morte e quarta causa de internações no sistema público brasileiro, a Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), moléstia progressiva que une enfisema pulmonar e bronquite, é conhecida por apenas 5% da população. Para piorar, apenas 12% dos portadores da doença são diagnosticados corretamente - e, dos afetados, 88% são fumantes ou ex-fumantes. Os dados são de duas pesquisas divulgadas ontem, uma feita pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a outra realizada por diversos centros de pesquisa em 46 países, incluindo o Brasil. Os estudos mostraram ainda que, enquanto as pessoas leigas desconhecem a doença, entre os médicos há também falta de preparo para diagnosticar e acompanhar esses pacientes. Isso porque 60% das pessoas estudadas não tinham sido submetidas a espirometria, exame que avalia a capacidade respiratória e é importante para o diagnóstico preciso e o acompanhamento da evolução da doença. "Isso mostra que o exame ainda é subutilizado pelos médicos", afirma o pneumologista José Jardim, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), responsável pela primeira pesquisa e coordenador do estudo internacional no Brasil. Segundo ele, os primeiros sintomas da doença - falta de ar, tosse e produção de muco (catarro) - costumam ser entendidos como conseqüências da idade e/ou do cigarro. O paciente acaba procurando ajuda médica apenas quando a doença já está num estágio avançado, e a pessoa acaba precisando, além dos medicamentos, de um respirador. Nesse estágio também, segundo a pesquisa, a cada crise respiratória os pacientes permanecem uma semana incapacitados para suas atividades normais. "A incidência da DPOC no mundo aumentou 371% de 1965 a 1998. Como ela demora de 30 a 40 anos para aparecer, estamos tratando quem começou a fumar há décadas. E, como as pessoas continuam fumando, e em lugares como Ásia o fumo ainda cresce, é um problema que não será resolvido tão cedo. Ainda vamos continuar convivendo com a doença nas décadas futuras", explica o pneumologista Sanjay Sethi, especialista na área da Universidade de Búfalo, presente na apresentação da pesquisa. A DPOC é uma doença progressiva, provocada pela exposição prolongada dos brônquios a substâncias tóxicas que estão na fumaça do cigarro. Por demorar cerca de 30 anos para se manifestar, ela geralmente afeta pessoas a partir dos 50 anos. No entanto, além do fumo, responsável por 90% dos casos, pessoas que tiveram contato com alguns tipos de fuligem (como quem trabalha em carvoarias) ou com fumaça de fogões a lenha também podem ser vítimas da doença. O primeiro trabalho, que analisou a falta de diagnóstico, foi feito com uma amostragem de cerca de 500 pacientes, pela Unifesp. Eles visitaram as pessoas em suas casas e as examinaram. O maior estudo, do qual o Brasil fez parte, envolveu 50 mil pacientes e 7,7 mil médicos em 46 países. TRATAMENTO A DPOC não pode ser curada, mas o diagnóstico precoce auxilia na manutenção da qualidade de vida do paciente. O tratamento é feito com antibióticos e broncodilatadores. No Brasil, a doença ainda não está incluída na lista de remédios distribuídos gratuitamente. O Estado de São Paulo, no entanto, por meio de um acordo com o Ministério Público, passou neste mês a distribuir o tratamento gratuitamente, conforme anunciou o Estado. NÚMEROS >7 milhões de pessoas são afetadas pela Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) no Brasil >95% da população desconhece o que é DOPC >88% dos doentes diagnosticados atualmente são ou foram fumantes >20% dos fumantes acabam desenvolvendo a doença após os 50 anos; mesmo ex-fumantes podem ter a moléstia >70% dos pacientes precisam procurar o médico quatro vezes por ano por causa das crises respiratórias

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