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Dobrando o estresse

A arte oriental da dobradura pode ser uma boa alternativa para descansar a mente

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Por Redação
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Em tempos de caos aéreo e filas intermináveis nos aeroportos, relaxar virou palavra de ordem. Se falta paciência, que tal exercitá-la em um pedaço de papel? Quem utiliza o origami para relaxar garante que ele é excelente para essa finalidade. Não se sabe a origem exata do origami - termo que juntas as palavras japonesas ´ori´, de dobrar e ´kami´, de papel -, mas boa parte dos especialistas acredita que a dobradura tenha surgido no século 6, em mosteiros chineses. Como a fabricação do papel era artesanal e muito difícil, figuras eram construídas para divindades e colocadas sobre altares. Séculos depois da sua descoberta, a arte oriental passou a ser utilizada para diversos fins. No Japão, a dobradura do pássaro ´tsuru´ (grou, em português) é símbolo de sorte, paz, felicidade e longevidade, sendo dada principalmente a pessoas enfermas, para que se recuperem rapidamente. Nas escolas, o origami, hoje, serve como recurso terapêutico. Em feiras de artesanato, figurinhas de papel são vendidas como objetos de decoração. E algumas empresas, preocupadas com a qualidade de vida dos funcionários, já adotam a dobradura para combater o estresse. Professora de origami do Centro Cultural Brasil-Japão, Mari Kanegae vai ao Ministério da Fazenda uma vez por semana dar aula de dobraduras às funcionárias públicas Heriete Takeda e Teresa Kirsten, que se apaixonaram pela modalidade após um breve curso, no início do ano. Agora, dedicam parte do horário de almoço para aprender a fazer pássaros, flores e outras figuras com folhas de papel quadradas. Heriete, que apesar de ser oriental nunca havia tido aulas de dobradura, descobriu efeitos positivos da arte na primeira aula. ´Senti uma alegria ao fazer as figuras se movimentarem.´ Antes, elas e as amigas costumavam passar o horário do almoço falando sobre o trabalho. Agora, usam o origami para desligar os botões por alguns minutos. ´Funciona mais ou menos como uma limpeza na mente´, acredita Teresa. ´Por instantes, me concentro só na seqüência de dobras. Paro de pensar em todo o resto. É uma delícia.´ A psicopedagoga e arte-educadora Maria Helena Costa Valente Aschenbach faz origamis desde 1971. Segundo ela, quando dirigida a crianças, a atividade pode ser combinada com outras formas de expressão corporal, como a dança e a narrativa. Caixinhas de papel, por exemplo, são usadas em brincadeiras como escravos de Jó. Figuras podem ser aplicadas em encenações. Helena conta que já usou suas dobraduras para acalmar um vendedor de filtros de água, perdido na explicação do produto que vendia. ´Pedi para ele parar um pouco e mostrei o meu trabalho. Mais calmo, ele conseguiu explicar o trabalho dele.´ Além da concentração e da paciência, origamis mexem com o exercício da observação. O artesão Carlos Cesar Marcantonio, que dá aula de dobraduras, acha que é preciso saber olhar bem a natureza antes de tentar representar as formas. ´É da arte da observação que virão a concentração e o sentimento necessários para descobrir a natureza íntima das coisas, que poderá então ser representada pelas voltas e dobras´, filosofa Marcantonio.Mari Kanegae acredita que, por conta do relaxamento funcionários que fazem dobraduras ficam mais dispostos. Mas se você está entre os aflitos do saguão do aeroporto, até fazer um aviãozinho de papel serve.

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