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Dízimo era usado em imóveis, diz Coaf

Relatório é base da denúncia do Ministério Público e aponta formas que a Universal aplicava recurso doado por fiel

Foto do author Marcelo Godoy
Por e Marcelo Godoy
Atualização:

Relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), braço do Ministério da Fazenda especializado no combate à lavagem de dinheiro, revela que parte do dinheiro arrecadado pela Igreja Universal do Reino de Deus por meio de dízimo foi aplicada na compra de imóveis. O documento é base da denúncia do Ministério Público Estadual (MPE) contra o bispo Edir Macedo e mais nove integrantes da Universal pelos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. De acordo com o MPE, empresas ligadas à igreja são usadas para "simular a compra e venda de imóveis, empresas e até mesmo aeronaves pertencentes ao grupo criminoso". Entre 1996 e 2007, aponta o relatório do Coaf, a Rádio e Televisão Record movimentou R$ 25,6 milhões para comprar imóveis acima de R$ 1 milhão. Os técnicos do Coaf registraram cinco transações imobiliárias supostamente feitas pela Record. A primeira teria ocorrido em 28 de junho de 1999, quando um prédio foi comprado em Salvador (BA) por R$ 8 milhões. Em 29 de novembro de 2001, uma casa no valor de R$ 3,22 milhões foi adquirida em São Paulo, onde também foi comprado um terreno por R$ 4,22 milhões em 25 de junho de 2001. No Rio, foram adquiridos em 14 de outubro de 2006 dois terrenos, um deles por R$ 8,488 milhões e outro por R$ 1,712 milhão. Na sequência, o relatório informa que a Record "consta da base de grandes devedores da União, com dívida no valor de R$ 25,28 milhões". Outro exemplo de suposta movimentação atípica nas contas da emissora, segundo o Coaf, foram saques e depósitos em dinheiro de até R$ 300 mil. Diz o documento, por exemplo, que nos dias 17 e 24 de julho houve retiradas em espécie de R$ 300 mil cada uma em contas da Record. O relatório cita ainda depósito em espécie de R$ 140 mil em 1º de setembro de 2006. Os dados sobre as movimentações da Record estão no mesmo relatório que analisou o patrimônio e as movimentações financeiras de Macedo, de três integrantes do Conselho Episcopal da Igreja e de 28 bispos, entre eles os deputados federais Eduardo Lopes (PSB-RJ) e Antônio Bulhões (PMDB-SP). O Coaf analisou ainda operações financeiras da Edminas S.A., cuja gráfica fica em Belo Horizonte (MG). Ela tem como sócio, segundo o Coaf, Jerônimo Alves Ferreira. Os promotores do MPE afirmam que Ferreira é diretor da Unimetro Empreendimentos S.A., que seria usada pela Universal para enviar recursos ao exterior. O dinheiro teria como a origem as doações de fiéis. Igrejas não pagam imposto, mas devem aplicar seus recursos em obras assistenciais. Em vez disso, sustenta o MPE, o dinheiro do dízimo seria depositado no exterior em contas de offshore com sede em paraísos fiscais. Os recursos voltariam ao País, onde beneficiariam, segundo o Coaf, empresas do "Grupo Universal"

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