Descoberto novo anticorpo contra vírus da aids

Pesquisa feita por americanos abre caminho para a criação de vacina contra a doença

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Por AFP e WASHINGTON
Atualização:

Um grupo de pesquisadores americanos descobriu dois novos anticorpos, bastante potentes e produzidos por uma minoria das pessoas infectadas, que possibilitariam a criação de uma vacina contra o vírus da aids. Agora, os cientistas vão tentar explorar vulnerabilidades do HIV, o vírus da imunodeficiência humana, para elaborar novos enfoques para conceber uma vacina.A aids já matou mais de 25 milhões de pessoas desde 1981, em especial nos países mais pobres, particularmente na África subsaariana. Batizados de PG9 e PG16, esses superanticorpos - chamados em inglês de broadly neutralizing antibodies (bNAbs), ou seja, anticorpos amplamente neutralizadores - têm maior capacidade de frear o HIV, um vírus difícil de combater por causa de suas múltiplas e rápidas mutações. O processo pelo qual esses anticorpos foram descobertos pode revelar mais vulnerabilidades do vírus, estimam os pesquisadores, cujo trabalho foi publicado na edição mais recente da revista Science. Os cientistas trabalharam a partir de uma ampla amostra de sangue infectado com o HIV, proveniente de 1,8 mil voluntários em 11 países - 7 deles na África subsaariana, além de Tailândia, Austrália, Reino Unido e Estados Unidos. "Essa descoberta representa em si mesma um avanço promissor até o objetivo de desenvolver uma vacina eficaz contra a aids", afirmou Wayne Koff, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Iniciativa Mundial para uma Vacina contra a Ais (Iavi), uma organização sem fins lucrativos que trabalha com mais de 40 instituições acadêmicas, comerciais e governamentais. "Agora que identificamos esses dois anticorpos, podemos encontrar outros, o que deve acelerar os esforços da comunidade mundial para desenvolver uma vacina contra a aids", completou Koff. Esses anticorpos são produzidos somente por uma minoria das pessoas infectadas e são diferentes dos outros anticorpos do HIV, já que podem neutralizar um porcentual elevado de numerosos tipos do vírus em circulação no mundo. Os médicos dizem acreditar que uma vacina capaz de impedir uma infecção pelo vírus da aids teria de ensinar o sistema imunológico a produzir esses superanticorpos antes de ser exposto ao patógeno. Experiências em animais permitem pensar que uma vacina desse tipo pode ser eficaz. Antes da descoberta desses dois novos anticorpos do HIV, apenas quatro haviam sido isolados - e isso ocorreu há mais de 10 anos. O PG9 e o PG16 apontam para uma zona do vírus que tem papel chave na infecção das células humanas e que não está sujeita a mutações, o que explica o seu forte poder de neutralização. Agora os pesquisadores vão estudar a estrutura molecular desses dois anticorpos, assim como a dessa zona do HIV que eles neutralizam. Além da Iavi, participaram dessa pesquisa cientistas do Instituto de Pesquisa Scripps, especializado em biomedicina e também sem fins lucrativos, e de duas empresas de biotecnologia, a Theraclone Sciences e a Monogram Biosciences.

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