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Dengue desorganiza todo atendimento médico

Epidemia já prejudica pacientes com outras doenças; unidades públicas cancelaram 60% das operações de ortopedia e exames estão atrasados

Por Clarissa Thomé
Atualização:

O pequeno Kauã Satiro Galbin, de 1 ano e sete meses, tem alergia a todos os tipos de leite - de vaca, de cabra e soja. No último mês, sua situação agravou-se e ele passou a rejeitar outros alimentos. A vendedora Lídia de Jesus Satiro, de 23 anos, esteve em cinco hospitais com o garoto, em duas semanas, sem conseguir o diagnóstico. Enfrentou longas filas. Kauã é um exemplo de como a dengue atinge até mesmo quem não foi contaminado pelo vírus. Entre os efeitos colaterais da epidemia, salas de espera lotadas, resultados de exames que demoram a sair e até mesmo cirurgias eletivas (que não são de emergência) remarcadas. Acompanhe as medidas de combate à doença Saiba o que é a dengue e a estatística nacional As mortes causadas pela dengue desde 2001 O mapa da doença no interior paulista "Meu filho não pára de vomitar e ninguém consegue dizer o que ele tem. E por causa da dengue tudo o que eu tenho feito é esperar. No Hospital Infantil de Duque de Caxias (Baixada Fluminense) eu cheguei pela manhã e saí de madrugada. Mais de 40 crianças foram atendidas na frente dele", contou Lídia, que na sexta-feira procurava diagnóstico pela quinta vez - esperava havia três horas pelo atendimento no Hospital Balbino, em Olaria, zona norte do Rio. Ao seu lado, dezenas de crianças esperavam atendimento, muitas delas com sintomas da dengue. Um dos efeitos da doença é a suspensão de cirurgias eletivas em hospitais públicos e particulares. "Precisamos dos leitos liberados porque o doente de dengue não escolhe quando vai precisar ficar internado. Mas uma operação de mama, ou de correção de fimose, pode esperar. E é até um risco para o paciente ser operado nesse momento de epidemia, porque ele pode estar no período de incubação do vírus", alerta o infectologista pediátrico Edmilson Migowski, chefe do Serviço de Infectologia Pediátrica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). SATURAÇÃO Para Migowski, os hospitais públicos e particulares estão saturados "porque nunca se viu tantos casos como agora". "Não devíamos falar em como reagir às epidemias, mas em evitar a epidemia. Infelizmente, estoura no lado mais fraco, que é o do paciente e dos hospitais", disse. De acordo com o ortopedista Marcos Musafir, integrante da diretoria da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (Sbot) e ex-presidente da entidade, nas últimas semanas, 60% das cirurgias eletivas da sua especialidade foram canceladas em hospitais públicos. Na rede privada, esse índice está entre 10% e 20%. "Fizemos uma racionalização dos casos. Postergamos as cirurgias de pacientes cujas lesões não comprometem as funções das pessoas", afirmou. "A situação de calamidade demanda esforço de toda a área de saúde para proteger as pessoas", afirmou. Nas seis unidades federais do Rio, 209 leitos foram reservados para pacientes com dengue, entre vagas novas e de cirurgias remarcadas. "Avisamos aos pacientes que aguardavam por cirurgia de baixíssimo risco que as operações seriam adiadas", explicou o diretor do Departamento de Gestão Hospitalar do ministério, Mário Bueno. Nos laboratórios, o crescimento do número de hemogramas e sorologias de dengue fez com que os exames fossem entregues com atraso. No Laboratório Sérgio Franco, por exemplo, o volume de hemogramas saltou de 3.253 em fevereiro para 9.363 em março.

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