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Dados põem bioma na agenda do clima

Análise

Por Herton Escobar e jornalista
Atualização:

Já era hora de o governo prestar atenção - de verdade - no desmatamento do cerrado. Os dados de emissão de carbono divulgados pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA) colocam o bioma de braços dados com a Amazônia na lista de prioridades da agenda climática brasileira. Quando chega à atmosfera, 1 tonelada de carbono é 1 tonelada de carbono. Seu efeito de aquecimento é o mesmo, não importa se ela foi emitida pela queima de uma árvore de 20 metros na Amazônia ou de uma de 5 metros no cerrado. Até agora, porém, as únicas emissões por desmatamento que eram levadas em conta nas discussões sobre mudanças climáticas eram as da floresta tropical.O cerrado, valorizado muito mais como uma fronteira agrícola a ser explorada do que como um tesouro biológico a ser preservado, nunca foi prioridade nas políticas públicas de pesquisa e conservação. Consequentemente, faltam dados científicos básicos sobre o bioma, necessários para entender sua biologia, seu clima e seus serviços ambientais - que incluem, entre muitas outras coisas, a estocagem e reciclagem de carbono.Os novos dados do MMA começam a preencher essa lacuna, mostrando que o desmatamento do cerrado pode ser tão prejudicial para o clima quanto o da Amazônia. Portanto, precisa ser combatido com o mesmo empenho.Não há dúvida de que as medições do ministério serão revisadas e refeitas por acadêmicos muitas vezes nos próximos anos. É possível que mudem bastante nesse processo. Calcular as emissões de carbono do cerrado é ainda mais complicado do que na Amazônia, porque sua cobertura vegetal varia imensamente no tempo e no espaço. E, mesmo na Amazônia, os números são difíceis.Seja como for, o MMA dá um passo importante ao colocar o cerrado no mapa das mudanças climáticas. O Ministério da Ciência e Tecnologia também faz suas contas para incluir o bioma no novo inventário de emissões do País, que deverá ser concluído até o fim do ano. Agora, quando o Brasil falar de sua contribuição para o aquecimento global, não poderá mais falar só da Amazônia. Terá de falar do cerrado também.O mesmo vale para o setor produtivo, que hoje concorda em não comprar soja nem carne produzida em áreas desmatadas da Amazônia, mas não quer nem ouvir falar de restrições à produção no cerrado. Terá de ouvir, agora.

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