D. Odilo é nomeado cardeal por Bento XVI

Cerimônia na Basílica de São Pedro consagrou ontem 23 novos cardeais

PUBLICIDADE

Por Gina Marques e Jamil Chade
Atualização:

Dom Odilo Pedro Scherer é o primeiro cardeal brasileiro nomeado pelo papa Bento XVI. Ele compõe desde ontem o grupo de nove cardeais brasileiros, dos quais quatro são eleitores porque têm menos de 80 anos. Em caso de morte do papa, d. Geraldo Majella Agnelo, d. Cláudio Hummes, d. Eusébio Scheid e d. Odilo Scherer poderão eleger o sucessor em conclave do qual participam 120 cardeais. A cerimônia solene de ontem foi celebrada dentro da Basílica de São Pedro, no Vaticano, porque a previsão do tempo indicava chuva. Os 23 novos cardeais entraram pelo portão direito da basílica, situado próximo à Pietà de Michelangelo. Eles percorreram em procissão a nave central até o altar, onde se encontra o baldaquino (dossel com cortinas, apoiado em colunas, para embelezar tronos) do escultor Bernini. Em seguida, entrou o papa. A cerimônia contou com a liturgia da palavra, na qual foi lida a primeira carta de São Pedro e trecho do evangelho de São Marcos. Na homilia, o papa expressou preocupação com a minoria cristã no Iraque, destacando a entrada do patriarca da Igreja Caldéia (denominação da comunidade cristã iraquiana), Delly Emmanuel III, no colégio dos cardeais. Os cardeais fizeram o juramento e, quando o nome de cada um foi pronunciado, grupos de fiéis que lotavam a basílica aplaudiram, erguendo bandeiras de vários países representados - também do Brasil. Além do barrete, como tradição, o papa designa à cada cardeal uma igreja em Roma. Dom Odilo recebeu a importante igreja de Sant?Andrea no Quirinale, perto da praça onde está o palácio da Presidência da Itália. No final da cerimônia, Bento XVI surpreendeu todos com um gesto improvisado, saindo no átrio da basílica para cumprimentar os fiéis que assistiam à cerimônia na Praça São Pedro. ADEQUADA AO CONTEXTO Dom Odilo Scherer acredita que a sua nomeação é uma honra para São Paulo. Segundo ele, a composição do colégio cardinalício não é nem progressista, nem conservadora, e sim "adequada ao seu contexto histórico". Na véspera da cerimônia solene para a nomeação dos 23 novos cardeais, ele admitiu ao Estado que "o diálogo ecumênico com os pentecostais no Brasil ainda é muito incipiente". Um dia antes da cerimônia de nomeação, os cardeais estiveram reunidos com o papa para discutir vários temas, com destaque ao diálogo entre as Igrejas Cristãs. Segundo d. Odilo, há "passos bem concretos" no diálogo com protestantes e ortodoxos, mas, lamentou, com os pentecostais ainda existem dificuldades. "Com os novos grupos que surgiram, o diálogo ecumênico está muito incipiente e requer muito esforço e paciência", disse o arcebispo de São Paulo. "Precisa haver vontade das duas partes. Os católicos têm muita vontade." CACIFE Enquanto o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e outras autoridades eram recebidas com honras pelo Vaticano para a cerimônia com o papa Bento XVI e d. Odilo, quase toda a família do religioso teve de se contentar em acompanhar o evento do lado de fora da Santa Sé. Após muita insistência, dois dos três de seus irmãos que viajaram até Roma conseguiram autorização para entrar na Basílica de São Pedro. Mas primos, sobrinhos, amigos e outro irmão ficaram mesmo de fora. Para os irmãos, a nomeação de d. Odilo "é a maior honra para a família Scherer". "Pelo que conhecemos dele, será um bom líder. Ele se preparou muito para isso e, honestamente, tem cacife para o posto", afirmou Lucio, um dos irmãos, que hoje vive em Foz de Iguaçu (PR). No total, d. Odilo tem dez irmãos ainda vivos. Apesar da frustração, a família não escondia o entusiasmo. Com bandeiras do Brasil, contavam as histórias de d. Odilo enquanto esperavam pelo início do evento. "Os nossos pais nos deram a possibilidade de estudar em um seminário que, na nossa região, era a melhor escola que existia. Odilo se sentiu confortável e decidiu seguir, enquanto os demais tomaram outro caminho", contou Lucio. Depois de uma negociação com os seguranças do Vaticano, dois dos irmãos foram autorizados a entrar na Basílica. Não escondiam a emoção.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.