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Cuidadoras do dinheiro

As principais constatações da pesquisa exclusiva desenvolvida pela Sophia Mind

Por Ciça Vallerio
Atualização:

Uma boa notícia: elas estão cuidando mais do seu dinheiro, ou pelo menos caminham nessa direção. É o que indicam uma pesquisa exclusiva da Sophia Mind - empresa especializada em análises do comportamento feminino e braço do grupo de comunicação que criou o site Bolsa de Mulher - e testemunhos de profissionais de finanças. O principal resultado da enquete - realizada pela internet no início do ano, com 1.437 entrevistadas, entre 25 e 50 anos, das cinco regiões do Brasil - é que menos da metade das mulheres (46%) possui algum tipo de investimento.

 

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Parece pouco, mais não é. Estima-se que, 10 anos atrás, esse índice era pelo menos a metade do que é hoje. "O ingresso maciço da mulher no mercado de trabalho é tão recente quanto o fato de ela ser dona do seu próprio dinheiro, não só para gastar, mas também para poupar e fazer aplicações", afirma Andiara Petterle, presidente do Grupo Bolsa de Mulher. Ela considera o porcentual de 46% de investidoras "superpositivo".

 

No entanto, levando-se em conta que as mulheres vivem mais do que os homens - em média, sete anos, segundo o IBGE - e que o índice de pobreza na terceira idade é maior entre elas, por estarem geralmente sozinhas e despreparadas financeiramente para essa fase da vida, o resultado apontado na pesquisa não é tão bom assim. "A mulher ainda sonha que um homem entrará em sua vida para lhe dar segurança financeira ou dizer o que ela deve fazer com seu dinheiro", alfineta a consultora financeira Cristiane Lazotti, autora do livro O que Há na Bolsa da Mulher - Guia Prático de Finanças Pessoais (Matrix).

 

Para refrescar a memória, até a década de 60, era função do homem sustentar a família e cuidar das finanças. À mulher cabia apenas cuidar do lar e dos filhos. Acostumada a delegar a responsabilidade da administração financeira ao provedor, esse assunto foi se distanciando da sua vida e tornando-se um forte traço cultural. Até hoje, é comum encontrar aquelas que acreditam que "dinheiro é coisa de homem" - mesmo que estejam bem profissionalmente e não dependam de nenhum centavo do companheiro.

 

Outro erro crasso feminino é a visão imediatista sobre o dinheiro. Na opinião de Cristiane , a mulher não o vê como um meio de multiplicá-lo, mas apenas como um instrumento para conquistar o que quer, geralmente dando prioridade ao consumo. Segundo o levantamento da Sophia Mind, o principal objetivo das mulheres para fazerem investimentos de longo prazo é a compra ou reforma de imóvel (41%), principalmente entre aquelas na faixa dos 25 a 30 anos (49%).

 

Poucas são as que se preocuparam com a aposentadoria (15%), item que está em segundo lugar no ranking da pesquisa e tem adesão maior entre mulheres acima de 40 anos (19%). No entanto, levantamento da empresa de previdência privada e seguros Brasilprev aponta para a crescente procura feminina por planos de previdência privada. Entre os seus 1,19 milhão de clientes, elas representam hoje 43%. Em 1994, eram apenas 29%.

 

Por comodidade e/ou falta de informação, as mulheres deixam de apostar em opções mais atrativas, que poderiam engordar mais seus rendimentos. De acordo com a pesquisa da Sophia Mind, a poupança é a aplicação mais procurada entre elas (73%). Os títulos de capitalização, que os especialistas em finanças nem consideram um investimento, são bem aceitos por uma fatia significativa (13%), só perdendo para previdência privada e imóveis. "Esse é um produto vendido pelo banco, que está atrelado a sorteios, mas que não rende quase nada", avisa Andrea Assef, jornalista especializada em finanças pessoais.

 

Mais ousadia. Finalmente, porém, muitas estão se dando conta da importância de desbravarem o mercado de capitais, lançando seu dinheiro em outros investimentos mais rentáveis e também de maior risco. Como lembra Andrea, para fazer o bolo crescer, é fundamental direcionar parte das economias para aplicações de longo prazo mais agressivas, como as ações.

 

Entre as entrevistadas, 40% afirmaram ter interesse ou muito interesse pelo tema. "Apesar da pouca educação financeira, as mulheres estão buscando cada vez mais fontes de informação", observa Andiara Petterle, do Grupo Bolsa de Mulher. "Mas há pouco material com linguagem acessível, direcionado para elas."

 

Está aí um filão que começa a despontar no mercado. Atentas a esse movimento, as jornalistas de economia Andrea Assef e Mara Luquet uniram-se para escrever livros sobre finanças para mulheres. O primeiro, Meninas Normais Vão Ao Shopping, Meninas Iradas Vão À Bolsa, vendeu mais de 70 mil exemplares. Depois lançaram outros títulos.

 

"Recebíamos muitos e-mails de leitoras pedindo mais dados, querendo aprender", lembra Andrea Assef. Por esse motivo, também lançaram a revista mensal Elas&Lucros, a primeira do País a tratar de finanças só para o público feminino. E Andrea passou a apresentar um programa de rádio diário com o mesmo nome da revista (107,3 FM). Sua audiência mensal gira em torno de 1 milhão de ouvintes - sendo 40% homens.

 

Outro termômetro: de três anos para cá, aumenta a cada temporada o número de mulheres que procura pelos cursos de educação financeira da especialista em psicologia econômica, Paula Schurt. A maioria quer colocar as contas em ordem e investir. "Há também senhoras que sempre delegaram essa responsabilidade aos maridos, mas agora desejam cuidar dos rendimentos da família."

 

 

 

Perfil arrojado

 

Nome : Carolina Buzetto

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Idade: 30 anos

Profissão: publicitária

 

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"Desde quando comecei a estagiar, guardava uma parte do salário. Mesmo sem ter um valor fixo, até hoje separo uma quantia mensal todo mês para investir. Hoje tento reservar mais de 20% do que ganho. Apesar de morar com minha mãe, pago todas as despesas da casa, porque ela é aposentada. Após três anos de financiamento, quitei o meu apartamento com tudo o que tinha no fundo de renda fixa, mas sem mexer na aplicação em ações. Aproveitei também para trocar de carro no fim do ano, comprando um zero à vista. Ter uma boa reserva é minha grande preocupação para me manter caso perca o emprego, pois não tenho pai ou mãe para me bancar."

 

 

 

 

 

Previdência

 

Nome : Gabriela Vianna de Magalhães

Idade: 38 anos

Profissão: designer gráfica

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"Como comecei a trabalhar cedo, aplicava em fundos conservadores, mas até hoje não entendo bem sobre investimentos, muito menos sobre mercado de ações, onde prefiro não me arriscar. Aos 26, paguei minha pós-graduação na Suíça. Depois veio o casamento, a construção da casa. Aposentadoria é uma preocupação frequente, pois trabalhava de forma terceirizada, só tive dois registros em carteira. Mas fui postergando a escolha da previdência privada, até meu filho fazer 1 ano. Fiz um plano para ele e outro para mim. Apesar de meu marido e eu termos aplicações individuais, acompanhamos juntos nossos rendimentos."

 

 

 

 

 

 

 

 

Menos gastos

 

Nome: Paula Passos

Idade: 36 anos

Profissão: administradora

 

"Nunca me importei em fazer sobrar dinheiro no fim do mês para aplicar, mas agora que me separei, há quatro meses, e tenho uma filha de 5, penso antes de gastar. Quando estamos casadas, achamos que sempre teremos esse apoio. Fui mal acostumada, porque tinha sempre alguém para resolver problemas nessa área para mim. Meu pai, que me salvava nos apertos com dinheiro, faleceu. E era o meu ex-marido que administrava as finanças da casa. Consegui investir meu décimo terceiro na poupança, pois considero uma aplicação fácil e rápida. Apesar de ter dado um primeiro e importante passo, finanças não é um assunto que me interessa."

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