Crise freia corte de CO2 na Europa

Para indústria, custos ficaram altos demais com turbulência financeira

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Por Jamil Chade e GENEBRA
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O pacote ambiental que a Europa estava prestes a adotar, que modificaria parte do funcionamento de sua economia, pode ser parcialmente abandonado por causa da crise financeira que atinge o mundo. Nos últimos dias, governos e empresas européias alertaram que o custo da adaptação climática proposta por Bruxelas pode se tornar inviável em razão da recessão que ameaça o continente. Diante das ameaças impostas pelas mudanças climáticas, a Comissão Européia foi a primeira a anunciar um plano para reduzir as emissões de gás carbônico (CO2) em 20% até 2020. O custo dessa adaptação para a indústria européia seria de 44 bilhões (cerca de R$ 117 bilhões) por ano entre 2013 e 2020. Para representantes da indústria, a crise atual diminui o espaço para que empresas aceitem reformar sua produção. Nesta semana, um grupo de empresários deixou claro às autoridades européias que simplesmente retirariam seus investimentos do continente e os levariam para outra região se a idéia do pacote ambiental fosse aprovada. O impacto dessa ameaça poderia ser a perda de empregos - e mesmo a queda de governos, que não teriam o apoio do setor privado. Empresários alertam ainda que o pacote pode matar a competitividade da indústria européia. Angela Merkel, chanceler alemã, deixou claro que quer novas regras de emissões de CO2, mas "não poderia apoiar a destruição dos empregos na Alemanha". A Polônia, ainda com sua indústria pesada, também quer que o acordo seja voluntário. SUICÍDIO Na Itália, alguns dos principais políticos afirmam que o pacote não será aprovado. "Politicamente, as idéias fazem sentido. Mas o plano não será aprovado", alertou o primeiro-ministro italiano, Giuliano Amato. Renato Brunetta, ministro italiano para a Inovação, vai além. "Se o plano for aprovado, matará qualquer chance de recuperação da economia. Ninguém precisa cometer suicídio", disse. A idéia da Comissão era obter uma aprovação para o projeto até o fim do ano. O comissário da União Européia (UE) para Meio Ambiente, Stavros Dimas, não se cansa de apelar para que o tema continue recebendo a atenção dos políticos. Parte da responsabilidade recai sobre o presidente da França, Nicolas Sarkozy, que preside a UE até dezembro. Paris havia indicado que essa seria uma de suas prioridades. Mas, com a crise e a reação da indústria, a proposta final pode ser aguada para evitar que a política ambiental européia seja totalmente abandonada. RECUO EUROPEU Angela Merkel Chanceler da Alemanha "(Eu) não poderia apoiar a destruição dos empregos" Giuliano Amato Primeiro-ministro italiano "As idéias fazem sentido. Mas o plano não será aprovado" Renato Brunetta Ministro italiano "Se o plano for aprovado, matará qualquer chance de recuperação da economia. Ninguém precisa cometer suicídio"

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