''Criamos um modelo de curso nos moldes da residência médica''

Vera Cabral Costa : diretora da Escola de Formação da Secretaria de Estado da Educação; Especialista explica como funcionará a instituição criada pelo governo para preparar professores para as salas de aula

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Por Simone Iwasso
Atualização:

Com um currículo essencialmente voltado para a prática em sala de aula, a Escola de Formação da Secretaria de Estado da Educação se prepara para abrir as portas em agosto. O objetivo, segundo a diretora nomeada para a escola, Vera Cabral Costa, ex-diretora da Políticas Sociais da Fundação do Desenvolvimento Administrativo do Estado de São Paulo (Fundap), será transformar o professor que sai da faculdade em um professor preparado para a rede. "Vamos complementar sua formação para dar mais condições e habilidades para que ele transmita o conhecimento." Economista de formação, mas com uma atuação voltada para projetos sociais e educacionais, e com experiência como consultora do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Ministério da Educação (MEC), Vera afirma que o desafio da escola é criar um modelo que ainda não existe em muitos lugares, ou seja, de uma formação que una teoria e prática. "Como uma residência médica", resume. A escola vai funcionar inicialmente como um polo de educação continuada para docentes da rede. Mas a intenção do governo é aprovar uma lei que torne obrigatório um curso nessa instituição para os aprovados em concurso, antes de irem para as salas de aula. Como vai funcionar a Escola de Formação? A primeira meta da instituição será trabalhar com os ingressantes na rede, por meio de um curso de quatro meses. A proposta é que o curso faça parte do processo de seleção para a carreira do magistério. O candidato presta o concurso como a primeira etapa. Na segunda etapa ele faz o curso e precisa se submeter a uma avaliação para ser aprovado. Será um curso de especialização que se concentrará na prática. Antes mesmo de começar, a proposta do curso está sendo criticada pelo sindicato dos professores. Como será a sua viabilização na prática? Nós temos dificuldade na formação do professor para atuar em sala de aula. Por isso o curso é importante, para dar subsídios para que o profissional entre na escola com habilidades mais específicas do magistério. Estamos criando um modelo nos moldes de uma residência médica, que é uma formação em serviço voltada para a prática. Provavelmente o curso terá um estágio supervisionado na rede, para que o ingressante possa refletir sobre sua atuação, exercitando a profissão. Não é que vamos separar totalmente prática e teoria,vamos equilibrá-las. Vamos fornecer ao professor ferramentas de transmissão de conteúdos, ajudá-lo a se posicionar na sala de aula, a lidar com os conflitos de hoje, fazer a mediação desses conflitos. Como será possível fazer isso com dez mil professores ao mesmo tempo? Será um curso semipresencial. Além da sede da escola, na capital, vamos usar a estrutura das diretorias de ensino e da Rede do Saber para os encontros presenciais. E usar um modelo que seja interativo, não aqueles formatos estanques de educação a distância que as pessoas imaginam. Será uma plataforma que permita leituras, debates, interferências do professor. A partir de situações colocadas, o professor pode refletir e debater com o grupo. Por meio de propostas diferenciadas de ensino, estaremos estimulando o professor e mostrando para ele que é possível transmitir o conhecimento de formas diferentes, usando outras ferramentas e tecnologia. Não apenas escrevendo na lousa e mandando o aluno copiar. E quem serão os professores que darão as aulas e coordenarão os debates e reflexões? A escola tem como princípio aproveitar as experiências da própria rede. A gente fala apenas do lado ruim da rede estadual, mas existem também experiências muito interessantes acontecendo e escolas de excelente qualidade. Temos pessoas dentro da rede com muito a contribuir dentro desse modelo. Mas há, claro, contribuição da academia. O próprio currículo foi feito pela equipe da rede com contribuição de professores das universidades estaduais. Então haverá uma mistura entre professores da rede, que já estão trabalhando nesse caminho prático e professores acadêmicos. Mas não é a universidade que forma o professor que hoje a secretaria considera que precisa de formação? Há na universidade quem defenda a formação mais prática? Sim. O próprio currículo já foi construído com ajuda dessas pessoas. Não acredito que a teoria e prática sejam contraditórias, são complementares. Nossa visão é complementar à da universidade. O ideal, do nosso ponto de vista, é que a universidade formasse o professor pronto para atuar na rede. Isso não acontece. Por isso vamos oferecer essa formação complementar para dar condições para que ele tenha mais habilidades e ferramentas na transmissão dos conhecimentos. Mas, mesmo assim, não vejo contradição. Quais serão as outras atividades da escola? A escola vai centralizar toda a formação dos atuais professores da rede. A partir do próximo semestre, todos terão uma mesma orientação, sendo direcionados para fornecerem apoio para o professor dentro da sala de aula. A intenção também é trabalhar a escola de forma integral, as equipes escolares conjuntamente. Não adianta formar apenas o professor com essa orientação e não abordar também o diretor, o supervisor, o coordenador, o dirigente regional. Isso não pode ser recebido pelos professores como uma interferência em seu trabalho, como foi com a distribuição do caderno do professor e do aluno? Temos de adequar os meios com os projetos e as políticas da rede, que têm como foco o aprendizado. Não pode, portanto, existir uma formação fragmentada. Temos trabalhado com definição de currículo, avaliação e preparação de materiais. A formação inicial e contínua precisa estar alinhada com esses três eixos. É uma forma de atuar diretamente, criando condições para que escolas cumpram suas metas. Não é obrigar todos a terem as mesmas visões, mas criar uma integração de conceitos e conteúdos, para que uma escola do interior tenha o mesmo conteúdo de uma da capital, tenha o mínimo necessário.

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