Miriam Arizmendi, empregada de um posto de gasolina em Acapulco, atende os clientes com o rosto coberto com uma máscara cirúrgica e as mãos protegidas por luvas de borracha. Seus colegas se recusam a encher os tanques de veículos provenientes da capital mexicana. Ela diz que entende a recusa deles. "Chegam muitos chilangos (como são chamados os habitantes da capital no resto do país) por aqui e eles podem nos infectar. Seria melhor que não viessem. O governo federal devia fazer um cerco sanitário." A imagem, captada por um meio de comunicação local, mostra o que a epidemia de gripe acabou provocando no México: o medo dos mexicanos, ou, mais exatamente, o medo dos "chilangos". A Cidade do México, convertida em "marco zero" da epidemia de gripe desde 23 de abril, quando foi dado o alerta sanitário, parece uma ilha enferma que ameaça um país já repleto de problemas. Enquanto no resto do mundo, ser mexicano significa ser portador do vírus H1N1, no interior do país os próprios mexicanos agora cobram dos moradores da capital a sua histórica soberba. BARRADOS EM ACAPULCO Acapulco, balneário turístico próximo da capital, é o exemplo mais dramático disso. Com o aumento das medidas de emergência, muitos moradores da Cidade do México decidiram transferir o seu confinamento para esse lugar - onde também foi cancelada a vida noturna e comercial - mas não são bem recebidos. "Que as pessoas com sintomas da gripe não pensem que só pelo fato de virem para Acapulco, e pelo clima da região, vão se restabelecer. Por isso pedimos que sejam responsáveis e não venham", disse o prefeito Manuel Anorve. Pelo menos quatro carros com placas do Distrito Federal foram apedrejados pelos moradores. A mesma rejeição se verifica em Morelos, um dos locais mais procurados pelos moradores da capital mexicana para descansar, onde o governo do Estado ordenou o fechamento de 56 balneários e todos os locais de diversão. Fora do país, o medo dos mexicanos se reproduz ainda mais do que o vírus da gripe. "Nossos amigos já começaram a cancelar encontros e reuniões conosco", conta uma jornalista mexicana que mora em Roma há quase três anos e esteve no México em meados de fevereiro. "No início não acreditava que fosse tanto assim. Mesmo agora não consigo imaginar a Cidade do México da maneira como dizem que está e me sinto triste quando ouço falar que ninguém quer ir ao México." As histórias se reproduzem a cada conversa. Como o caso dos meninos mexicanos que foram enviadas para casa pelo colégio suíço onde estudam porque se soube que seu pai tinha estado recentemente no México. Ou da jovem que precisou cancelar sua viagem para se casar na Noruega porque estava gripada e não a deixaram entrar no avião. Ou ainda, do acadêmico mexicano que foi jogado abruptamente de um táxi em Buenos Aires quando o motorista percebeu seu sotaque mexicano. À proibição expressa de vários governos de que seus cidadãos visitem o México e ao cancelamento de voos e cruzeiros - só Cancún já registra perdas de US$ 2,4 milhões -, vem se somar agora o aumento de exigências para mexicanos entrarem em países como o Japão, o adiamento de jogos de equipes mexicanas que participam da Copa Libertadores e as reclamações da banda Los Tigres del Norte, porque precisaram se submeter a exame médico para dar um show em Honduras.