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Correr vira estilo de vida nas metrópoles

Corridas de rua perderam o foco da competição e se transformaram em eventos de lazer e confraternização

Por Fabiana Cimieri
Atualização:

Não precisa pagar mensalidade nem cumprir horário. Só é preciso um caminho e um bom par de tênis. A recompensa aparece logo: emagrecimento, manutenção do peso e disposição, mesmo para quem não abre mão dos prazeres à mesa. Por isso a corrida de rua é o esporte que mais cresce no mundo. E ser corredor vem extrapolando os limites da forma física e se tornando um estilo de vida, especialmente nas metrópoles. A Corpore, uma associação de corredores sem fins lucrativos com sede em São Paulo, tinha 227 mil praticantes cadastrados no final de 2008, um crescimento de 24,7% em relação a 2007 e 26 vezes maior do que o número registrado em 1997, quando a entidade contabilizava 8,5 mil corredores no Brasil. A entidade, fundada em 1982, foi criada para apoiar maratonistas brasileiros que corriam no exterior, como Joaquim Cruz, medalhista de prata em Olimpíada. Na época, seus associados eram atletas porque a legislação não permitia profissionalização de maratonistas. Nos anos 90, o número de corredores amadores começou a aumentar. "No fim dos anos 80, a maioria dos praticantes corria por recomendação médica. Depois o foco mudou para a forma física e o que vemos hoje é que a corrida se tornou um estilo de vida", analisa o presidente da Corpore, o psicoterapeuta David Cytrynowicz, de 61 anos. Sua história é parecida com a de muitos: apesar de praticar esportes desde criança, achava que não seria capaz de correr. Aos 40 anos, descobriu que podia. "Eu entrei pela boca, para perder peso porque adoro comer. E para ser maratonista você é obrigado a comer massa." As corridas de rua perderam o foco na competição e se transformaram em eventos de lazer e confraternização. Enquanto alguns gostam de correr sozinhos e veem no esporte a chance de um momento de introspecção, boa parte dos esportistas tem vida social em torno da corrida. Ter companhia é um dos motivos que levam os corredores a associarem-se a uma equipe. Na orla do Aterro do Flamengo, Leblon, Ipanema e Lagoa, no Rio, há mais de dez de tendas onde, por um preço menor do que o de uma academia, os corredores têm treinamento individual. Os alunos do professor de educação física Adevan Pereira, dono de uma tenda na Praia do Leblon, recebem uma planilha de treinos mensalmente. Além da corrida na pista, ele criou um circuito na areia para fortalecer diferentes músculos da perna. Os alunos também recebem ajuda para se alongarem. Entre os clientes, há corredores de todos os níveis. A dona de casa Ana Lucia Araújo, de 58 anos, com histórico de lesão no joelho, foi atraída pela possibilidade de fazer atividade física ao ar livre. "Sempre fiz academia e estava cansada daquele ambiente. Eu ainda vou conseguir correr", diz ela, que treina na areia e faz caminhadas moderadas. Com o mesmo treinador, o arquiteto Marcelo Baraúna, de 47, prepara-se para sua primeira maratona, em junho. Ele virou corredor porque jogava tênis e queria fortalecer a parte aeróbica, mas estava cansado da esteira. "Hoje posso dizer que estou viciado em correr". A shiatsuterapeuta Mônca Vilela, de 48, fazia balé e achava que o esporte não era para ela. Incentivada por amigos, decidiu-se pela meta de dar a volta na Lagoa, com cerca de 8 km, e em pouco tempo estava participando de corridas de 10km, a preferida dos amadores. "É sempre um desafio. E você acaba levando essa superação para resolver os seus problemas na vida."

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