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Consumidores ingleses redescobrem o leite cru

Procura pelo produto não pasteurizado aumenta; agência do governo alerta sobre riscos

Por Hugh Wilson
Atualização:

Ao sul de Londres, a fazenda Longleys é um modelo de agricultura em pequena escala, sustentável, rica em vida selvagem e totalmente orgânica . É também uma das 12 fazendas inglesas que produzem leite cru. Preocupações com a segurança, envolvendo agentes patogênicos encontrados em leite não pasteurizado, levaram à sua proibição na Escócia e ao banimento em mercearias e supermercados da Inglaterra, Irlanda do Norte e País de Gales. Mas produtores como Steve Hook, que administra a Longleys com o pai, vendem diretamente o leite para consumidores locais, em armazéns ou pequenos mercados. "Há onze meses começamos a engarrafar meio litro por semana", diz Hook. "Hoje vendemos 680 litros por semana, e a produção está crescendo." Os clientes são de duas categorias. De um lado, os mais velhos, que já bebiam o leite antes da obrigatoriedade do processo de pasteurização e são atraídos pelo seu sabor. De outro, um número cada vez maior de pessoas que adotam o leite cru, ao mudar sua alimentação para alimentos não processados. Há três anos, Holly Paige compra leite cru. Ela está ciente dos alertas oficiais, mas acredita que o produto oferece benefícios à saúde que o pasteurizado não garante. "O sabor é magnífico, muito melhor do que o ?leite normal?", diz ela. "Acho também que a pasteurização transforma um produto saudável, nutritivo, numa outra coisa que o corpo tem dificuldade para assimilar. Há três anos dou leite cru para meus filhos, sem nenhum efeito adverso. Desde que o leite seja obtido com higiene, estou satisfeita. E conheço bem a fazenda que me fornece." De acordo com a Campanha pelo Leite Real, grupo americano que luta pela normalização do leite cru, a pasteurização destrói vitaminas e minerais e elimina proteínas que ajudam a levar esses nutrientes para o sangue. Resultados de um estudo feito na Universidade de Londres sugerem que crianças criadas com leite cru são menos suscetíveis a uma série de doenças alérgicas. ?RISCOS ENORMES? Embora muitos especialistas concordem que o leite cru oferece benefícios, outros afirmam que os riscos podem ser maiores. A pasteurização pode destruir algumas vitaminas, mas também destrói bactérias potencialmente fatais, como a salmonela ou a E. coli. O FSA (agência que regula alimentos na Grã-Bretanha) e outros órgãos oficiais de saúde alertam contra seu consumo. "Crianças, pessoas enfermas, grávidas e idosos são particularmente vulneráveis a envenenamentos por alimentos e, por isso, não devem usar leite que não seja pasteurizado", diz uma porta-voz do FSA. O microbiólogo Hugh Pennington, especialista em surtos de doenças provocadas por alimentos, concorda: "Os riscos de beber leite não pasteurizado são enormes." Segundo Richard Young, dono de uma fazenda orgânica e conselheiro da Soil Association, que promove a agricultura orgânica, esses temores são obsoletos. "Hoje os produtores de leite cru precisam atender a padrões mais rigorosos de higiene do que os produtores de leite convencionais", diz.

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