Confronto entre manifestantes e PM deixa seis feridos na USP

Força Tática usou bomba de efeito moral e balas de borracha para conter alunos, professores e funcionários; Três foram detidos; liberados à noite, responderão a processo; Servidores estão parados há 35 dias

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Por Eduardo Nunomura , Simone Iwasso e Elida Oliveira
Atualização:

Alunos, professores e funcionários da Universidade de São Paulo (USP) entraram em confronto com a Polícia Militar em protesto na Cidade Universitária. A Força Tática da PM foi acionada e usou bombas de gás lacrimogêneo, além de disparar balas de borracha. Um aluno e cinco policiais ficaram feridos.   Veja também: Estudantes e PM se enfrentam na USP Três pessoas foram detidas e, após assinar termo circunstanciado, foram liberadas no início da noite. O ex-funcionário da USP Claudionor Brandão, demitido em 2008, mas que se mantém no sindicato dos funcionários (Sintusp), o técnico do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) Celso Luciano Almeida da Silva e o estudante da FFLCH José Ailton Dutra Junior vão responder criminalmente por danos ao patrimônio público, desacato à autoridade e resistência à prisão. Os funcionários da USP estão em greve há mais de um mês. Professores e alunos aderiram ao movimento na sexta. Ontem, por volta das 17h, começou o confronto, após aproximadamente 200 alunos cercarem um grupo de quatro policiais. À tarde, o protesto, que começou de forma pacífica, contava com alunos e funcionários da Unesp e Unicamp. Quem passava pelo local recebia flores. Mas, por volta das 15h, cerca de mil pessoas fecharam a entrada principal com um caminhão de som. Às 17h, quando a manifestação seria encerrada, houve um desentendimento entre alunos e funcionários porque um grupo queria voltar para reitoria e outro defendia passeata pela Avenida Vital Brasil, fora do câmpus. Uma votação foi organizada, mas, como não chegaram a um consenso, os funcionários da USP, acompanhados por colegas da Unicamp, começaram a se dispersar. Os alunos também se dividiram enquanto rumavam para a reitoria, onde pretendiam fazer uma nova manifestação. Quando o protesto no local parecia terminar, um dos alunos pegou um cone de trânsito e se negou a devolvê-lo para um grupo de quatro policiais. A tensão aumentou e um grupo de 200 estudantes encurralou os policiais contra um tapume, próximo à entrada da USP. Reforços foram chamados e a PM reagiu. Armados com escopetas, cassetetes e escudos, o revide dos policiais começou na Avenida Lineu Prestes, a principal da Cidade Universitária. Estudantes e funcionários correram em direção à reitoria, gritando que iriam ocupar o prédio. Outros, mais ousados, iam na direção dos policiais que continuavam em marcha, em formação de choque. "Minha filha estuda na escola de Educação, só há crianças e adolescentes lá dentro, como eles podem jogar bombas?", gritava a jornalista e sindicalista Rosana Bullara. "Havia só seis policiais, quando os estudantes gritaram ?fora PM?, porque essa é mesmo uma de nossas reivindicações, e a PM veio com toda a violência", completou ela.No confronto, um aluno foi atingido por uma bala de borracha. Encaminhado ao Hospital Universitário, foi liberado em seguida. Outra manifestante procurou o local por ter inalado gás. A PM diz ter reagido às provocações dos alunos. "Na volta da manifestação, eles (alunos) provocaram os policiais motociclistas que estão garantindo a circulação. Acuaram os policiais que pediram socorro e a Força Tática teve que socorrê-los", disse o coronel Claudio Miguel Longo, comandante do 4º batalhão da PM. "O que fizemos foi tentar tirar os policiais do meio daqueles vândalos, porque aqueles não são estudantes." A polícia está desde a semana passada na USP ocupando prédios como o da reitoria e deve permanecer para cumprir ordem expedida pela 13ª Vara da Fazenda Pública, de reintegração de posse e resguardo do direito de ir e vir. Por volta das 19h, os alunos subiram em direção à Faculdade de História e Geografia enquanto os policiais se posicionaram em rua próxima. Houve novo confronto, só solucionado com a intermediação de deputados e professores. Após as 20h, o reforço policial deixou o câmpus. Às 22h30, os estudantes aprovaram em assembleia uma passeata até a Avenida Paulista, com concentração na reitoria a partir do meio-dia. SAIBA MAIS Reivindicações: Reposição da inflação de 6,1%, mais 10% para recuperar perdas históricas, além de R$ 200. Para os funcionários do Centro Paula Souza, a pauta pede reajuste de 10% e recomposição das perdas salariais. Democratização da estrutura administrativa, do funcionamento dos colegiados e da gestão financeira e patrimonial das universidades e do Centro Paula Souza.Funcionários e grupos de alunos e professores pedem eleição direta para reitor. Autonomia: defesa da autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial das universidades e do Centro Paula Souza, com revogação dos decretos do governo José Serra que, para eles, ferem a autonomia das universidades estaduais - motivo da invasão de 50 dias, em 2007. Contratações: pedem contratação por concurso público e revogação das políticas que terceirizam cargos. Pedem garantia da manutenção do emprego dos atuais 5.214 ocupantes de vagas da USP que estão sendo contestadas pelo Tribunal de Contas. Ensino a distância: o Fórum das Seis é contra o ensino a distância em todos os níveis educacionais. Quer o fim da licenciatura à distância criada neste ano para professores da rede pública. Permanência estudantil: querem dotação orçamentária específica para políticas de acesso e permanência estudantil e sua ampliação nas universidades estaduais e no Centro Paula Souza. E construção de moradia estudantil e restaurante universitário em todos os câmpus das universidades estaduais paulistas A proposta do Cruesp: A USP ofereceu aos seus funcionários reajuste de 16% nos benefícios, como auxílio-alimentação. O Cruesp ofereceu 6,05% de reajuste salarial que incidirá sobre os vencimentos de maio Funcionamento: Tradicionalmente, algumas unidades contam com maior apoio a paralisações. A FFLCH é a principal delas. Outras, como Poli, FEA, Medicina e Direito continuam funcionando Outros confrontos: Em 21 de setembro de 1977, a PM bloqueou as entradas da Cidade Universitária para impedir o 3.º Encontro Nacional dos Estudantes. A Tropa de Choque dispersou alunos na entrada do câmpus. A Faculdade de Medicina foi invadida pela polícia. Mais de 200 estudantes foram levados para interrogatório e fichamento. Há dois anos, quando alunos da USP ocupavam a reitoria, uma passeata de 3 mil a 5 mil alunos, professores e funcionários em direção ao Palácio dos Bandeirantes acabou em detenção de um estudante, logo liberado, e agressão de outro com cassetete. Não houve à época da ocupação intervenção policial no câmpus

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