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Confirmado metano em Marte

Gás é indício de vida pois na Terra 90% da substância é gerada por seres vivos; Nasa não descarta origem geoquímica

Por Carlos Orsi
Atualização:

Cientistas americanos confirmaram a presença de grandes massas de metano, um componente do gás natural, na atmosfera de Marte. Na Terra, 90% do metano existente no ar é produzido por seres vivos, e o mesmo pode ser verdade no planeta vermelho. "Tanto a origem biótica quanto a abiótica são possíveis", diz o principal autor do estudo que descreve o metano marciano, Michael Mumma, do Centro de Voo Espacial Goddard, da Nasa. "Isso eleva substancialmente a probabilidade de que houve vida lá ou que ela sobrevive até o presente", acrescentou - com a ressalva de que a presença de vida em Marte ainda está longe de ser provada. Veja um mapa global de Marte A alternativa à explicação biológica seria uma origem geoquímica, a partir de uma reação envolvendo rocha aquecida do interior do planeta e água, ou a partir da liberação de metano antigo congelado, aprisionado no subsolo. Segundo Mumma, apenas missões com astronautas ou robôs, enviadas aos locais de onde o metano parece se originar, poderão eliminar a dúvida. Ao comentar a descoberta em um evento realizado pela Nasa, a geóloga Lisa Pratt, da Universidade de Indiana, disse que o metano de origem geológica na Terra é tão raro que considera que a origem biológica para o gás em Marte "pode até ser mais plausível". Ela lembrou que existem seres vivos que se alimentam de metano, e que poderiam se acumular junto a fontes do gás. "Essa descoberta nos dá um alvo. O metano é também um recurso." Ela disse que para confirmar a presença de vida nesses locais seria preciso escavar vários metros abaixo da superfície. Os primeiros sinais de metano em Marte haviam sido detectados em 2003, mas a presença do gás ainda era controversa. Unindo observações feitas naquele ano a outras de 2006, a equipe de Mumma obteve o que ele chama de "detecção definitiva" da substância. Os pesquisadores obtiveram a confirmação realizando uma análise espectroscópica da luz solar refletida por Marte em direção à Terra, e encontraram a assinatura do metano. A análise das flutuações na intensidade dessa assinatura fez com que concluíssem que o gás é emitido nos meses quentes - primavera e verão - e que se origina, provavelmente, em três regiões do hemisfério norte: Arabia Terra, Nili Fossae e Syrtis Major. Junto com o metano, a equipe de Mumma também viu a assinatura de água, que é um ingrediente essencial à vida. O artigo que descreve a descoberta, publicado online na tarde de ontem pelo serviço ScienceExpress, da revista Science, cita como possível modelo para a fonte biológica do gás algumas comunidades de micro-organismos encontradas vivendo a quilômetros de profundidade, na Terra, que se alimentam de hidrogênio, desligado das moléculas de água pela radiação natural das rochas, e gás carbônico. Esses organismos produzem metano. "Pode ser possível que uma biota semelhante sobreviva por eras abaixo do gelo em Marte, onde a água é líquida." Os gases acumulados nessas áreas seriam liberados de forma sazonal, com a abertura dos poros de rochas e do solo. A quantidade de metano detectada em Marte no verão de 2003 foi de 19 mil toneladas. Os cientistas não sabem dizer se a liberação se deu de forma gradual ou explosiva. A taxa média estimada de emissão é de pouco menos de 52 toneladas por dia.

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