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Conferência buscará alternativas viáveis para o período pós-Kyoto

COP-13, que será na Indonésia, reunirá 180 países que discutirão como lidar com o aquecimento global

Por Cristina Amorim e BALI
Atualização:

Começa amanhã, na Indonésia, a Conferência do Clima (COP-13), reunião de 180 países para decidir, em 12 dias, como a humanidade vai lidar com o aquecimento global e suas conseqüências. A reunião, a 13ª entre as partes que compõem a Convenção-Quadro da ONU sobre Mudanças Climáticas, tem o objetivo de buscar soluções políticas a serem implantadas após 2012, quando termina o prazo de cumprimento do Protocolo de Kyoto. Todos concordam que a resposta precisa ser mais dura do que um corte de 5,2% das emissões de gases-estufa pelos países ricos. O problema, contudo, mora nos detalhes. Os países não conseguem conciliar suas agendas com um modelo único, global e efetivo, que contemple as premissas da própria convenção: a responsabilidade sobre as emissões antrópicas (feitas pelo homem) é comum, porém diferenciada entre ricos e pobres, e quem poluiu mais paga e faz mais. As diferenças são tão grandes que podem provocar o resultado menos adequado ao momento: a inação. A COP-13 é o ápice de um ano em que a crise climática se tornou, ao mesmo tempo, um evento midiático, um consenso científico, um norteador político, um modulador econômico e uma peça de propaganda. Em maior ou menor grau, governos e sociedade discutiram como sentirão e lidarão com os impactos e o que precisa ser feito para evitar os piores efeitos das mudanças pela qual a Terra passa. "Precisamos aproveitar o ano para avançar nessa negociação. No ano que vem o tema esfria um pouco", diz Rubens Born, coordenador da ONG Vitae Civilis, que acompanhou quase todas as conferências. DO OSCAR AO NOBEL Em 2007, o tema ganhou projeção especialmente por causa de dois fatores. O primeiro é o documentário Uma Verdade Inconveniente, que deu o Oscar ao ex-vice-presidente americano Al Gore, hoje showman do aquecimento global e articulador político. O outro fator foi o lançamento do novo relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), órgão científico ligado à ONU. A ação humana foi apontada como a causa do aquecimento global com quase 100% de certeza, assim como reduziram as incertezas científicas sobre como a Terra reage e reagirá ao efeito estufa. Gore e o IPCC dividiram o Nobel da Paz deste ano. Junte-se ao fato a Alemanha, comprometida com a questão, presidir o G-8 neste ano e o setor empresarial mapear perdas e ganhos com a situação, e as mudanças climáticas viraram a pauta do ano. Sem fatos do mesmo peso no próximo ano, o debate corre o risco de minguar. URGÊNCIA Segundo o IPCC, a humanidade tem poucas décadas para controlar o problema e manter o planeta do jeito que esta geração conhece. Os europeus afirmam que é preciso estabilizar na atmosfera as concentrações de dióxido de carbono (CO2), o principal gás-estufa, em no máximo de 450 a 490 ppm, o que equivale a um aquecimento médio da superfície do planeta entre 2°C e 2,4°C acima do registrado antes da Revolução Industrial. Mais do que isso, passam a se acumular seus efeitos, como degelo rápido nos pólos e elevação dos oceanos, agravamento de eventos climáticos extremos, como tempestades, secas e ondas de calor, e redução de áreas cultiváveis. A posição não é consensual: países mais vulneráveis, como os insulares, sofreriam inundações num mundo assim aquecido. O que todos concordam é quanto à gravidade da situação: um quadro do gênero pode se materializar neste século se nada for feito. "O risco é passar do ponto sem volta, porque a Terra vai entrar em um novo equilíbrio", afirma o climatologista Carlos Nobre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). "Não devemos pagar para ver. É crítico reduzir as emissões nos próximos 20, 30 anos." Para isso, a COP-13 tentará aprovar o Mandato de Bali, documento com diretrizes a serem seguidas e aprovadas em 2009. Entre seus principais pontos, estão cortes mais ambiciosos nas emissões de gases-estufa pelos países desenvolvidos e a discussão sobre o papel dos emergentes. COLABOROU FELIPE WERNECK, DO RIO O QUE SERÁ DISCUTIDO Entre amanhã e o dia 14, 180 países estarão reunidos na Indonésia para debater sobre o aquecimento global e as conseqüências que a humanidade sofrerá Pós-Kyoto: Cortes mais profundos nas emissões de gases-estufa, pelos países desenvolvidos, válidos a partir de 2013 Ricos vs. pobres : Metas de corte (ou de redução da taxa de crescimento) das emissões nas nações em desenvolvimento Mitigação: A inclusão das florestas em pé na conta de mitigação do efeito estufa; além de absorverem carbono da atmosfera, as matas antigas (como a amazônica) guardam muito carbono estocado na forma de biomassa Recursos: Aumento do fundo de adaptação, alimentado pelos países ricos para ajudar os pobres a se prepararem para as mudanças climáticas Alternativas: Mecanismos mais efetivos para a transferência de tecnologias "limpas" dos países desenvolvidos aos em desenvolvimento

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