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Comissão debate mudanças nas graduações em Jornalismo

Uma das propostas é conceder diploma a bacharéis de outras profissões

Por Simone Iwasso e Karina Toledo
Atualização:

A concessão do diploma de Jornalismo a bacharéis de outras profissões após dois anos de curso é a proposta mais polêmica da comissão que será empossada hoje pelo Ministério da Educação para criar novas diretrizes para a graduação. Outra mudança a ser debatida é a separação do curso da grande área da Comunicação Social, criando um currículo próprio. "O curso perdeu autonomia e identidade", diz o presidente da comissão, José Marques de Melo, professor da Universidade Metodista. "A graduação deveria ter um currículo próprio com ênfase nas áreas de humanidades, e outros profissionais, que já teriam cumprido essa carga de disciplinas, poderiam ter o diploma após dois anos de aulas." Ele ressalta que são apenas ideias, sujeitas ao debate com empresas de comunicação, sindicatos, professores e alunos. Nos próximos três meses, prazo para a comissão entregar um relatório ao Conselho Nacional de Educação, haverá audiências públicas. Desde os anos 1980, a formação em Jornalismo passou a ser uma habilitação do curso de Comunicação Social. Já a possibilidade de bacharéis receberem diploma após dois anos foi levantada em 2008 pelo ministro da Educação, Fernando Haddad. Entre as graduações mais concorridas, os cursos de Jornalismo fizeram parte da expansão do ensino privado nos anos 1990. Segundo dados do Censo da Educação Superior, dos 546 cursos oferecidos no País, 463 são pagos. Somente em 2007, foram 6.850 formados. A comissão não vai interferir na regulamentação para o exercício da profissão, tema que espera julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. Os outros membros da comissão são Manoel Carlos Chaparro (USP), Sonia Moreira (Uerj), Lúcia Araújo (Canal Futura), Alfredo Vizeu (UFPE), Eduardo Meditsch (UFSC), Luiz Gonzaga Motta (UnB) e Sérgio Mattos (UFRB). POLÊMICA Separar Jornalismo das demais áreas tem apoio da Federação Nacional dos Jornalistas. "O Jornalismo tem especificidades que o tornam diferente", diz seu presidente, Sérgio Murillo de Andrade. Sobre a conclusão em dois anos, afirma que a entidade discutiria desde que fosse "via de mão dupla". "Se for oferecida ao jornalista a mesma facilidade, podemos discutir. Senão seria reforçar o preconceito de que Jornalismo é curso secundário." Para o presidente da Comissão de Graduação da ECA/USP, José Coelho Sobrinho, a divisão entre Jornalismo e as demais áreas não é ruim, mas não resolve o problema. "Universidades estão ensinando a fazer jornal, não jornalismo. Deveriam pensar na liberdade de comunicação, da responsabilidade social, do interesse público." O coordenador do curso da Cásper Líbero, Carlos Costa, se diz preocupado com a "volúpia do MEC em criar normas". "As instituições deveriam ter liberdade para criar e o mercado regular." Costa critica a composição da comissão. "São, em sua maioria, testemunhas do jornalismo do século 19. Pessoas notáveis, mas que deveriam se aposentar e ficar em casa escrevendo livro de autoajuda", diz.

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